quarta-feira, 30 de setembro de 2009

DEUS É O DESTINO


Estava reparando o nosso cotidiano, as ‘estranhas coincidencias’ que existem na vida de cada um de nós... Isso pode ser um ponto de partida para um debate contra o livre-arbítrio. Pensemos: você realmente planejou ficar com a pessoa que está do seu lado? Lembra de como achou esquisito o fato de estar naquele local, naquele exato momento, e que se assim não fosse, vocês nem teriam se olhado? Sim, e da mesma forma você pode ter percebido ‘de repente’ um sentimento por alguem que sempre esteve perto de você e jamais te chamou a atenção... até aquele momento. Isso sem falar em por que você não embarcou naquele avião que caiu, ou aceitou o convite para uma festa onde conheceu pessoas que mudaram seu destino profissional.
Se existisse o livre-arbítrio, só faria sentido se todos tivessem as mesmas chances. Se todos nascessem com as mesmas oportunidades. E quem conhece o continente africano, por exemplo, sabe que não é bem assim.
O que explica o sucesso de uns e o fracasso de outros? A determinação? Hummm... bem, você conhece pessoas determinadas que não vão a lugar algum, certo? Barrichello é determinado! E outras que não estão nem aí para o mundo ao redor e são extremamente bem-sucedidas, certo? Pois é.
Depois de ler bastante e de observar mais ainda, estou cada vez mais convicto de que existe apenas o que podemos chamar de destino. Entendo Deus como O CRIADOR. Ele é o autor desse filme que chamamos vida. E nós somos personagens.... apenas isso. E já é muito. Fomos escolhidos para estar aqui por Ele, só isso já vale.
Ah, vão dizer, então Deus é um injusto, pois faz personagens tristes, com doenças incuráveis, que nascem e morrem em condições miseráveis. E de outro lado, escreve roteiros de felicidade e sucesso para uns poucos. Que justiça há nisso? Ora, essa indagação não se sustenta, pois seria o mesmo que o personagem de Leonardo Di Caprio no filme Titanic questionasse sua morte. O problema com essa suposta justiça é que ela é baseada em conceitos humanos. Deus, não é humano.
Assim, do meu ponto de vista, tudo é perfeitamente explicável e terrivelmente simples. Tudo, todas as nossas emoções e questionamentos, estão no script. Em que familia vamos nascer, de quem vamos gostar, do que vamos gostar. Nosso time do coração, nossa aversão por futebol, nossas certezas e dúvidas. Você olha uma pessoa e diz: ‘não sei por que, mas não fui com a cara desse sujeito’... o Autor tem muito senso de humor.
Vão retrucar: ah, tá, então vou ficar sentado aqui, já que não passo de um personagem! Sim, vai sim, se estiver escrito para você. E se você rir de tudo e seguir seu rumo, ganhar na mega-sena acumulada etc... também isso está escrito.
Provas? Sua vida. Olhe para trás nesse exato instante e reveja grandes momentos, alegres e tristes, lembre-se de como aconteceram. Lembre-se das suas escolhas. Não, não foi mero acaso. Seja você um rico e bem sucedido empresário ou um alguem que perdeu tudo e está sozinho na frente do computador.
Aí, voce pode se questionar, por que não foi escolhido para ser um jogador multimilionário... por que voce, que gosta de escrever, não está na ABL como o Paulo Coelho, que, a rigor, nem escreve bem? A resposta é: por que o Criador fez outro personagem para voce. E tem mais, seja um sucesso ou um fracasso, goste ou não do que tem, você é protagonista.
Deus fez um livro bem especial, onde só tem protagonistas. Uma idéia absolutamente genial, que só podia vir Dele. Aliás, uma idéia tão genial me faz pensar que Ele pode ser uma criança... hummm essa pista tem até na Bíblia, que é um livro interessante.
Mas... se é mesmo assim, você está intrigado, nós não saberíamos disso e não estariamos aqui discutindo a possibilidade. Por que, não? Ele também é irônico.
O Criador fez inumeras religiôes, mas cuidou de deixar claro que o caminho é um só... outra pegadinha. Assim, seja espírita ou adepto de outras linhas que explicam a vida à luz das reencarnações, ou seja um fiel seguidor de outra, que imagina um mundo divino após esse, ou ainda, um muçulmano que tem a certeza de que vai morrer e encontrar 72 virgens esperando por ele, bem... você foi criado para pensar assim. Busca uma verdade, ou duas, ou três, no fundo só para passar o tempo que dura SUA história.

Às vezes, os personagens também enchem linguiça, para depois cair num climax sensacional. Claro, o autor tem que amarrar a trama, e com 7 bilhoes de astros é difícil. Quer dizer, difícil, não, trabalhoso. Por isso, às vezes você tem a percepção de que o tempo passa rápido, e ás vezes, de que tudo está parado demais. Talento... o Criador é Puro Talento. Pois o tempo é sempre o mesmo, a percepção do personagem é que muda.
E o que tem depois que a história acaba?


Rsrsrs quem disse que acaba?

terça-feira, 8 de setembro de 2009

EI, LEMBRA DE MIM?




Caminhava pela Visconde de Pirajá, na bela e ensolarada Ipanema. Depois de um dia de serviço na agência o que eu mais queria era sossego.
Andando em minha direção vinha uma deusa, cerca 1,80m, olhos azuis, e loira, mas loira mesmo, daquelas que, quando o sol ilumina o rosto você tem certeza de que Afrodite deixou descendentes para mostrar aos pobres mortais o real sentido da beleza. E olha que em Ipanema o que não falta é ninfa, fada e sereia. Mas, aquilo tudo que vinha em minha direção estava além das classificações.
Ela provavelmente não me daria bola, mas olhei assim mesmo, que mal poderia haver? Para minha surpresa, ela não só olhou de volta como abriu o sorriso mais delicioso e convidativo do mundo. Sabe essas horas em que você quer muito que algo aconteça, e quando acontece você não sabe como se portar? Pois é!

- Oooooooi!- disse ela, com uma euforia ímpar.
- Oi - disse eu, gaguejando.
- Não acredito que te encontrei, queria tanto te ver novo! - era a primeira vez que uma escultura me abraçava.
- Ah, puxa, é mesmo, quanto tempo, hein?- eu não podia dizer que não a conhecia, seria um dos daqueles erros imbecis que te acompanham a vida inteira.
E a galera?
- A galera... Ahh, a galera há há há... a galera? Sabia que você ia perguntar. Tá legal! aquela galera tá sempre legal - não ia me entregar fácil. Se eu fazia parte da galera, bem, então eu fazia. - Eu amava a galera.
- Eu tenho saudades da nossa "txurminha", do Fred, da Val, e da Beth, então...
- Puxa, que coincidência, a Beth perguntou por você – era um gancho para manter a conversa. Ora, é claro que a Beth poderia ter perguntado por ela. Quem sabe a Beth não era a melhor amiga?
- Perguntou?
- Há há há, claro. Mandou um beijão.
- Ué, mas ela não morreu?
- Hã?! Ah, é, é... mas foi antes - tem que ter jogo de cintura nessas horas.
- Eu moro aqui agora, nesse prédio, vamos até o meu apartamento? A gente toma um drink. Puxa, estou tão feliz em te ver, tão feliz – se ela estava feliz, o que eu podia dizer???
Claro! Quer dizer, por mim tudo bem.

Eu não sabia seu nome, no entanto, já fazia parte da galera, e era amigo, ou, quem sabe, algo mais caliente, daquele monumento. Morava no 21º andar. Um apartamento grande, bem decorado, com samambaias dispersas pela sala. Eu odeio planta em apartamento, acho que não tem nada a ver...


- Gosta das minha plantinhas?
- Demais essas samambaias! – repensei meus conceitos e segurei o espirro.
- Segui seu conselho.
- Há! rsrsrs eu sabia que você ia acabar entendendo a importância AAAATCHIMMM... desculpa. – Conselho? Que conselho eu dei a ela?

Enquanto sentava no sofá, ela pediu licença para dar um telefonema. Era segredo, pois levou o aparelho para o quarto, no fim do corredor. Aproveitei para ver se alguma coisa na casa daria uma pista do seu nome. Verifiquei na estante. Havia fotos dela em Paris, na Espanha e em praias paradisíacas. Claro que os lugares perdiam longe, ela era a melhor paisagem do mundo. Percebi que a sorte estava do meu lado quando ví uma correspondência na mesa. Diana. Bingo! Era mesmo uma deusa. Então, ela voltou. Com um vinho e duas taças.

- Eu nem acredito que a gente tá de novo assim, tão junto! Há quanto tempo a gente não se fala?- bem, eu tenho 35 anos, pensei.
- Ah, sei lá, para mim o tempo é relativo, acho que nunca saí de perto de você – essa minha frase foi, modéstia à parte, perfeita.

Sei que passamos os próximos minutos tomando vinho e conversando sobre assuntos gerais: filmes, músicas, Barack Obama etc. Além de percorrer todas as curvas da loira com meu olhar científico-devasso e me deixar levar por aqueles par de seios que cismavam em se mover, cadenciadamente, no decote a minha frente, descobri muito a meu respeito. Por exemplo, eu, que odeio música clássica, percebi que era um fã incondicional de Tchaikovski e Brahms. Quase pus tudo a perder quando ela comentou sobre Bethoven – o músico- e eu disse que ele - o cachorro-ator daquele filme infantil da sessão da tarde - devia ter pulgas. Ela disse que eu estava mais alegre, espirituoso. Bem, tinha razão, afinal, eu aceitei numa boa saber que sempre odiei rock e possuía todos os discos de Barbara Streissand. Ou seja: eu não era nada daquilo que pensava. E daí? Aquela loura enigmática era tudo que me importava. Tentava descobrir algo sobre nós dois.


- E...a gente? Perguntei, assim, assim.
- O que é que tem? Perguntou de volta o avião, me fitando com aquele brilho nos olhos.
- Ah, você sabe... você sabe - joguei todas as fichas naquele blefe, e, se ela não sabia, quem iria saber?
- Olha, morar junto foi uma experiência enriquecedora. Aprendi muito com nosso, digamos, relacionamento.
- Então?- moramos juntos???? tinha que insistir, o que ela queria dizer com "digamos"?
No fundo você estava certo – levantou-se, sedutora, ainda que fingisse o contrário, e, ao chegar à janela, continuou - a gente tinha quase tudo para dar certo, né? você gosta de balé, de badminton... – fala sério, eu?! Balé é coisa de ‘frutinha’!!!-, de tons pastéis, de vinho, enfim, seria uma maravilha, mas não podemos nos enganar. Sempre faltaria alguma coisa.

- Eu sei, Diana, eu sei. Mas também mudei muito nesse meio tempo – descobri o meu lado ator- olha, não nos encontramos por acaso. O acaso não existe – tinha ouvido isso de um cliente da India.

-Nossa, você mudou mesmo. Odiava essas frases feitas.
- Pra você ver. Por isso, quando te vi, bem... (interlúdio) tive a certeza de que tudo poderia ser diferente – me aproximei e segurei seus braços.
- Não, não, não. Eu não poderia dividir meus desejos com vocês dois – que dois, pensei, do que ela estava falando? A coisa havia se complicado. Ela era casada? Claro, que imbecil, é óbvio que ela era casada.
- Mas, mas... eu quero só você! – pelo espelho podia notar minha expressão de amor perfeito. Tinha certeza de que em breve estaríamos na cama.
- Eu sabia que você ia voltar à mesma tecla. Você sempre volta. Mas dessa vez vai ser diferente eu...eu... já liguei.
- Ligou? E daí que você ligou? – pra quem será que ela ligou?

A campainha tocou naquele instante. O acaso não existe, mesmo. Bati o recorde de pensamentos por segundo. O marido? A minha mulher? mas, eu não sou casado, ou sou? E agora não dava pra voltar e dizer que ela havia me confundido com outra pessoa. Ela foi abrir a porta, e, antes de abrir, virou-se.

- Eu só não quero escândalo – de que tipo? Ai meu Deus!
- Eu me posicionei, fiz uma pose rebelde. Se fosse a minha "mulher", diria que não queria mais nada, que Diana era o único amor da minha vida. Mas, para minha surpresa, entrou um cara. Parecia alemão. Os dois metros e tanto eram preenchidos com uma mistura de estivador e lutador de vale-tudo. Ele afastou Diana e se dirigiu a mim.
- O QUE É QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO AQUI? – acho que o prédio todo ouviu.
- Nã...nãaa, nããão é nada disso que, que você está pensando – essa frase está no inconsciente coletivo masculino, e é incontrolável.
- EU VOU TE MATAR!- existem centenas de interpretações para essa frase. No entanto, ao ver aquele monstro vindo em minha direção, senti que o negócio era sério. Eu tentei correr pelo apartamento, mas ele me pegou em dois segundos e começou a me enforcar. Posso garantir que não é uma coisa agradável.
- Eu vou te matar Viana, te mataar!!!!!– esse era o meu nome? Viana?. Eu tinha que dizer alguma coisa.
- Calma, calma! eu não quero nada com a tua mulher, isso tudo é um engano!
- Minha...mulher???– acho que disse alguma palavra mágica. O cara me soltou e olhou espantado, Diana idem - Diana, esse aqui não é o Viana. Olha só, não tem a verruga no nariz. Caramba, desculpa, desculpa, fofo... mas, afinal, quem é você? – Salvo por uma verruga.
Foi difícil explicar que eu só queria me dar bem com aquela loira fabulosa, e mais difícil ainda saber que o tal Viana, que não era eu, era bissexual, casado com o alemão - que se chamava Rufo -, e também gostava de Diana, de quem era cabelereiro. Quando os dois me chamaram para uma esticada na noite eu recusei e me mandei pra casa.

Estava entrando em meu edifício quando reparei uma morena de parar o trânsito. Paramos juntos. Estávamos esperando o elevador. Ela olhou e sorriu. Não pensei duas vezes e falei:
- Tá olhando o quê? – resolvi subir pela escada. Nunca se sabe, nunca se sabe.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

WE ALL STAND TOGHETER... porque ninguém tem amigos tão marcantes quanto os que encontramos na adolescência

Os anos passam, as melhores amizades não. Por isso, mais uma vez a galera do vôlei de 1982 resolveu se reunir. Na verdade, Marcelo, uma espécie de espírito dos verões passados, resolveu chamar todo mundo. Uma lenda diz que se essa reunião não acontecer de tempos em tempos, Marcelo desaparecerá do inconsciente coletivo e os anos de SUDERJ não serão lembrados por ninguém.
O local escolhido foi o bar CAÇADOR, na Tijuca. O ex-levantador Jorge olhou o bar, meio cabreiro, não acreditava que o pessoal apareceria. Logo percebeu um velho, cabelos grisalhos e olhos vagamente azuis, o observando. Depois o velho sorriu. Jorge já estava pensando em perguntar o que aquela figura estava olhando. Aí, percebeu que se tratava de Edmundo. Sim, uma das peças-chave do time campeão de 1982/83. Pouco sobrou do galã que arrasava corações. Agora Ed parecia uma espécie de Miguel Falabella descontextualizado.
Aos poucos as figuras foram surgindo da aurora dos tempos. Marcos, outro levantador célebre, chegou alegre e rotundo. Tornou-se um professor semi-obeso e manteve o tom crítico e simpático de outrora; Marcelo, o espírito que anda, chegou alegre e emocionado, claro; Édio, que nos anos de SUDERJ fazia caminhadas ecológicas para ‘enturmar’ as novas meninas da turma, veio com a esposa, que não sabia de seu passado e por isso ainda o ama muito; Tarciso, que pesava 27 quilos no vôlei, mudou muito e agora tem 127. De fato, virou um clone pesado de Zeca Pagodinho. O humor continou intacto; Acácio (cujo nome de batismo é Marcos) chegou cheio de gás e energéticos. Alguem perguntou se ele havia parado de tomar bomba, e ele respondeu: "Parei sim. Tem uns 5 minutos!". Acácio era o brincalhão de sempre, por isso mesmo se tornou uma caricatura, abandonanado de vez a forma humana. Ah, e pra não dizer que não falei das mulheres. Beth representou as meninas. Ela continua usando receitas de formol e botox e pouco muda.
Pra provar que nada mudou, Marcelo lembrou a vez em que Acacio e Edmundo nadaram pelados na piscina do Julio Delamare (esse episódio é um ritual e deve ser lembrado em todos os encontros). Depois de tanto tempo, como os fatos não mudam, as pessoas tentam lembrá-los de outra forma. Assim, continuam engraçados.
Entretanto, algo começa a preocupar. Marcelo trouxe fotos antigas, só que a maioria não conseguiu enxergá-las sem óculos, e pior... Edmundo está com Alzhaimer. Ele olhava as pessoas e não reconhecia ninguém. Não reconheceu nem ele mesmo "Ih... esse cara aqui parece alguem que eu conheço... estranho!" tsc tsc, Triste isso. Édio revelou que tentou vários implantes, mas a calvície ganhou a parada, e como seus cabelos agora só crecem para os lados ele pensa em imitar o BOZO, um velho personagem infantil, e animar festas. O papo, que antes era sobre partidas empolgantes, garotas sensacionais virou outra coisa. Agora, cada um conta que remédio está tomando; falam dos filhos (que já são mais velhos do que os pais no tempo de SUDERJ) etc.
Um momento perfeito foi o brinde ao eterno Vitor, que está jogando numa quadra lá na cobertura.
Mas, nem tudo está perdido, pois o brilho no olhar continua o mesmo em cada um deles. Marcelo, através de controle mental, fez com que todos se sentissem felizes, ainda que não soubessem ao certo o que faziam ali.
Lá pelas tantas, surgiram as inevitáveis idéias para um encontro maior na casa de alguém. Sugestões ébrias para cá e para lá, a mais interessante parecia ser a de Marcelo, que convidou todos para sua casa em Angra.
Enquanto tratavam da lista de apetrechos necessários, Marcelo foi explicando como era a casa. Não era grande, nem luxuosa. Na verdade, era simples, e bem apertada. Não ficava de frente para a praia. Mas ficava a apenas uma hora de lá. Não era no centro de Angra, e quem precisava de tumulto? O fato de não ter luz chegava a ser romântico. Não tinha água quente. Aliás, nem água tinha. Mas havia um poço. Os ânimos só arrefeceram quando Marcelo falou que o lugar era bem calmo, a não ser por uma onça, que de vez em quando rondava a casa. Bem, Angra ficaria para uma outra ocasião.
De certo, fica a sensação de que existe um ‘que’ de eternidade envolvendo essas pessoas especiais, os grandes amigos que tiveram a sorte (ou seria Destino) de se encontrarem em um lugar e tempo especiais. Mudaram as estações e nada mudou.
Quem disse que o ‘pra sempre’ sempre acaba?

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

40



Beatles, Lua e Internet. Em comum, chegam à casa dos 40 anos. No distante, e cada vez mais emblemático, ano de 1969 coisas aconteciam com alguma explicação. Na época, o mundo ainda era grande pra caramba, muita coisa que aocntecia no primeiro mundo demorava meses para aportar aqui.
Enquanto um sonho acabava, outros entravam em cena, e nada do que foi seria de novo do jeito que já foi um dia. Em Abbey Road, 4 caras atravessavam uma rua em direção à memória, à eternidade. Era a última caminhada de um grupo que foi o centro das atenções naqueles idolatrados anos 60, que começaram com jaquetas de couro, calças apertadas, botas e muito gel nos cabelos e terminavam com a utopia hippie de paz e amor, baseada em natureza, drogas e sexo. Depois de sacudir o mundo com suas músicas simples e muita ironia, os Beatles buscavam novos espaços. Apesar do talento, separados eles foram apenas John, Paul, George e Ringo.
De cabo Canaveral partia a Apollo 11. O homem chegava à lua (?!). Se foram, ao pisar em solo lunar, Neil Armstrong deu um gigantesco passo na aventura humana. Ao mesmo tempo, percebeu toda a insignificância de nosso planeta em relação ao universo. Os papas da Idade Média optariam pelo suicídio naquele instante. Por aqui, milhões acompanhavam cada detalhe: as sombras difusas, apesar de haver apenas uma fonte de luz – o sol; a bandeira americana tremulando, apesar de não haver como uma bandeira tremular naquele lugar; a pegada do astronauta, apesar da falta de gravidade, que tornaria a tal pegada algo bem difícil. E na época ninguem perguntou quem segurava a câmera que filmou Armstrong pisando na lua. Se ele foi o primeiro humano a pisar na lua, o câmera era um alienígena... mistério.
Também na casa dos quarenta está a internet. Sim, ela que permite que você leia esse blog, que possibilita encurtar o mundo todo e se comunicar com quem quisermos na hora que bem entendermos. A internet, um brinquedinho de guerra que se tornou a melhor extensão de nossas pretensões. Com seu jeito intimidador e ao mesmo tempo hipnotizante, ela tem o melhor e o pior do ser humano no mesmo lugar. Na internet se ama, marcam-se encontros e massacres, cria-se mundos e discute-se absolutamente tudo, sem chegar a alguam conclusão satisfatória.
Se o mundo parecia veloz, agora entrou na velocidade do pensamento. E o mais interessante é que a evolução tecnológica é tão avassaladora que é capaz de modificar o mundo de uma maneira indelével, ainda que muitos finjam não ver.
Na internet, com seus recursos infinitos, todas as tribos são iguais (tá, são parecidas... ok, se toleram), desde que saibam como navegar. E olha que o poeta certamente nunca imaginou um giga sequer ao dizer que: Navegar é preciso, viver não é preciso.
De certa forma, 1969 foi o primeiro ano do resto de nossas vidas.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

De Todas as Maneiras

O mundo é tão grande, tão cheio de tudo e de todas as coisas. Coisas Pequenas, galáxias distantes que cabem na palma da mão ou no fundo do olhar de um alguém. Coisas grandes, como um sonho que escapa, que se vai e jamais fica longe.
Tão intrigante e belo, tão cheio de contradições, esse mundo de meu Deus, de seu Deus e do Deus de todo mundo (até de quem não O tem). E quando tudo acaba, nada se perde, tudo se transforma, tudo se cria, e nunca é da forma que se pensa, que se espera... mas É.
O passado se parece, dessa vez, menos com o que foi e a cada dia fica mais perto do que só existe dentro de nós. Ainda assim, parece de todo perfeito e talvez seja preciso, pois o futuro vem e vai em ondas que não percebemos até que seja tarde demais, e já foi, e está aqui, e vem, de novo.
Ninguém é mais o mesmo, nunca foi, nem por um segundo, que pelo mundo desfaz dias, mitos, ritos. Gotas de chuva inundam o rio que transforma todo querer. E o que era eu, não mais está aqui, é como uma certeza que não faz mais sentido, que aproveitou sua chance e tempo, que tinha o que fazer e agora nem tem como ser. Quem inventou o amor?
Todos olham a mesma coisa e ela é diferente, ouvem a mesma canção e viajam por tempos e lugares que de tão particulares, de tão indivizíveis, são perceptíveis àqueles que se permitem apenas por não perceberem que toda eternidade está guardada em um segundo.
E dizer ‘te amo’ é tão simples quanto é difícil amar. Que meu amor, então, seja algo simples, mas que seja perfeito, que faça sombra, guarde segredos, universos, e não morra nem se perca em outra pessoa, senão, meu já não é, mas de todo mundo. E ser igual é o que todo diferente é.
Quem inventou essa noite fria, de vento forte, de raios que iluminam mares e céus profundos? Quem inventou essa tarde de brisa leve, que parece dizer ‘tá tudo bem’? Quem inventou essa manhã de céu azul, cheia de cores e grandes esperanças, a cantar ‘o mundo começa agora...’?
Sou eu, sou você, sou todo mundo.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

PRETÉRITO PERFEITO



Na sala, Maria, a empregada, e Maria Aparecida, a patroa, assistiam à novela das seis. Paulinho brincava no chão com seus bonecos japoneses, enquanto Rodolfo lia a folha de São Paulo. Ninguém ali notou quando o vô Asdrúbal passou do banheiro para o seu quarto.
Não sabia bem por que, mas o octogenário acordara diferente, como se procurasse algo importante demais, só que que não sabia o que era. Durante o dia, havia conversado com os amigos da praça. Até ganhara uma partida de damas, algo que há semanas não acontecia. Ouvira o Ribamar falar mal da família, a dona Maricota mais uma vez acusar o genro de estar olhando meio estranho para ela, apesar do rapaz ter uns 30 anos, ser estrábico, e ela ter 92. Nem mesmo a corrida que um pitbull deu no Aparício, que na fuga esqueceu a bengala e a artrite, foi capaz de afastar aquela sensação de que algo não estava muito certo.
Ao entrar em seu quarto, Asdrúbal foi de imediato até o armário. Pegou uma pequena caixa que, não lembrando por que, escondera atrás de perfumes e outros papéis. Sentou na cama e calmamente soprou a poeira que tomara posse da caixa de papelão. Até o desenho, pássaros e árvores do antigo Passeio Público, apresentavam a indelével marca do tempo. Asdrúbal pegou um saco plástico que armazenava seus pertences e desatou a fita.
Nossa!, espantou-se.

Papéis antigos, medalhas de jogos estudantis, cartas de amor que nunca tivera a coragem de enviar, um mundo perdido se mostrava ao velho paraquedista. Pegou um cartão que Carminha lhe mandara, dizendo o quanto a noite no Forte Copacabana havia sido especial. De fato, a partir dali Asdrúbal formaria sua família, e a doce Carminha traria à luz Maria Aparecida. Sim, depois viriam Rodolfo e Paulinho, mas e daí? pensou Asdrúbal, ninguém é perfeito. Olhou demoradamente para uma medalha e foi capaz de lembrar do jogo de vôlei contra a turma do Colégio Santo Inácio, afinal ele era o capitão. Riu desconcertado quando de assalto lhe veio à mente um momento de euforia, logo após a partida, quando saiu correndo em volta da quadra e derrubou a cadeira do juiz, que fraturou três costelas e engoliu o apito. Bons tempos, bons tempos, disse para si.

Um breve suspiro fez o velho militar pensar no quanto tudo havia mudado, e quão rápidas se fizeram as estações. Era mais do que uma sensação de nostalgia indômita, mais do que uma saudade, sentimento que não se consegue explicar. Não, era como uma sensação de roubo. Sim, pensou, era isso, como se houvessem roubado seu mundo, suas implicâncias, seus momentos de plenitude. Espalhou todo o conteúdo do saco plástico na cama, e ficou contente da intrometida da Maria, a empregada, não ter aparecido para perguntar se já podia esquentar o mingau.
Com os dedos, mergulhou no infinito de possibilidades e logo deparou com um álbum de fotos.
Estão todos aqui.
E estavam mesmo. Toda a turma do Colégio Militar, os páraquedistas, o Bráulio, Vasconcelos, Antônio Idalgo, Idelfonso e Venceslau. Havia momentos especiais, como condecorações no Palácio do Catete, mas também flagrantes de pura audácia. A subida no pico da Bandeira foi marcante, e lá estava o Venceslau, sempre sorridente. Aliás, pensou Asdrúbal, o rapaz era um tanto estranho, pois nas empreitadas na mata sempre dormia com um urso branco de pelúcia, dizia que era pra dar sorte. E só agora Asdrúbal notara que em todas as fotos o Venceslau estava olhando de soslaio para o Antônio Idalgo.

A Carminha que estava ali, tão próxima, era pouco mais do que uma menina. Não tinha uma ruga sequer, nem dor de cabeça, nem tinha partido. De repente, Asdrúbal percebeu o que o incomodava. Não era o fato de que hoje em dia já não existe ninguém chamado Idelfonso, ou Venceslau, ou Asdrúbal. O que o incomodava era o tempo.
Esse ser, que não tem forma ou cheiro, que a Física vê como uma quarta dimensão, havia levado tudo que em algum instante fez diferença para Asdrúbal. Ora, que fim levou seu Dodge Dart (que o Paulinho pensa que é raça de cachorro)? E o coronel Apolônio, que lhe ensinou tanto sobre a vida? seus pais, que nunca duvidaram do sucesso do filho, e sempre bancavam viagens de férias no exterior? Onde estavam seus coturnos, sua roupa camuflada? Será que Carminha aceitaria um pedido de namoro? Lágrimas saltaram dos olhos da velha águia, que ficou ainda mais embaraçado quando olhou para seus pertences largados sobre a cama. Ele pegou as fotos de novo e se deu conta de que até as cores haviam desaparecido. Pior, era como se nunca tivessem existido, como se tudo que viveu fosse em tons de cinza e sépia, que é a cor mais distante.
Cinco minutos depois, a família ainda permanece na sala. Só Maria, a empregada, foi para a cozinha esquentar o mingau de seu Asdrúbal. Então, Paulinho ouviu o som de uma chave trancando a porta do quarto. Olhou para o alto da escada e observou o avô, todo impávido. Ele fez um gesto e pediu ao neto que não o denunciasse, não queria atrapalhar a leitura da Folha nem a novela das seis. Paulinho piscou o olho, concordando, enquanto Asdrúbal desapareceu no corredor. Um barulho chamou a atenção da dona da casa.

-Ué, quem saiu? – pergunta Maria.
-Foi o vô.- disse Paulinho.

-Ora, onde será que ele vai a essas horas?

-Não sei, mãe. Ele tá doente?

-Claro que não, menino. Por que você pergunta?

-É que ele estava estranho... todo cinza.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

O TEATRO DOS VAMPIROS , ou "Someday we will die in your dreams, How I wish we were here with you now".





EXISTE beleza na dor? A questão pode ser retórica, mas quando Michael Jackson resolve partir definitivamente para Neverland, ela ressurge como nuvens pesadas em um horizonte cinza.
Alguns artistas fazem de seus tormentos obras de rara beleza, e assim acabam se perpetuando no imaginário popular, tornando-se algo maior, mais intenso e mais destrutivo do que poderíamos imaginar. O sucesso, a fama e a tragédia, vez por outra caminham juntos, de mãos dadas.
Nosso mundo emergencial traz explicita uma sentença: Gire as engrenagens, ou seja destroçado por elas. O showbussiness é uma dessas engrenagens, um dos elos fundamentais numa sociedade que se alimenta de ego, dinheiro e abstrações.
Janes Joplin, Jimi Hendrix, Brian Jones e Jim Morrisson, mortos aos 27 anos, tornaram-se exemplos de como as estrelas mais brilhantes se consomem rapidamente. Nesses casos, as drogas foram responsabilizadas pelos trágicos e prematuros desfechos. Mas, ao tomarmos conhecimento da vida desses músicos percebemos que as drogas eram o alívio, vistas como única alternativa para continuar a jornada. Ou interrompê-la.
Jim Morrisson definia o público como um vampiro insaciável, que sugava até a última gota de sangue de seus ‘ídolos’. É como se um artista qualquer desejasse muito fazer sucesso, ter fama, sexo a vontade, milhões na conta bancária e conseguisse exatamente isso. Mas, o preço a se pagar é caro.
Ian Curtis, morto em maio de 1980 aos 23 anos, era o vocalista da banda inlgesa Joy Division. Epilético, fazia de seu problema um motivo de arrebatamento dos fãs. Ele dançava de uma maneira desengonçada imitando, inconscientemente, os espamos da epilepsia. Certa vez, teve um ataque no palco, caindo em cima da bateria de maneira violenta. A platéia delirou.
Curt Cobain, aos 27 anos, em 1994, foi encontrado morto em seu apartamento. Em comum, todos os citados até aqui cometeram suicídio. Seja pela ingestão de drogas, alcool ou pelo estampido de um revolver, eles deram cabo da própria vida. Optaram por isso.
Elvis Presley e Michael Jackson não fogem à regra. A ingestão alucinada de medicamentos é uma das maneiras mais eficazes de suicídio. Elvis, em seus últimos anos, tranformara-se numa auto-paródia. Suas aparições públicas eram um espetáculo bizarro, e a cena dele distribuindo toalhinhas ensopadas de suor para senhoras alucinadas no Madson Square Garden é algo inesquecível. Michael, por sua vez, repetia os mesmos passos e gritinhos há vários anos, e pelo vídeo dos ensaios do que seria sua nova turnê nada mudaria.
Essas pessoas conquistaram o mundo, ou uma boa parcela dele. Subiram a montanha mais alta, de onde se pode ver crianças frágeis, adolescentes histéricos, adultos entediados e velhos saudosistas, todos gritando seus nomes, idolatrando-os. E, ao contemplar esse abismo perceberam que haviam criado e alimentado uma massa triste, perdida, insaciável, que precisa de refereciais, de deuses para adorar.
Artistas assim enriqueceram donos de gravadoras e fornecedores de drogas, em troca receberam o palco, a luz cegante da ribalta.
Esses jovens, e assim serão eternamente, morreram sozinhos em seus apartamentos, cheios de dor e melancolia. Suas biografias, ao mesmo tempo em que os humanizam, que tocam seus pés de barro, os tornam ainda mais rentáveis para a industria que os produziu. Um círculo vicioso.
Essa mesma indústria jamais admitirá que a morte era a única saída para cada um desses artistas, incapazes de conviver com o anonimato, de voltar à caverna, de serem normais. E quem é normal?
Nesse universo estranho, existe até bolsa de apostas sobre quem vai ser o próximo a ir embora. O nome escolhido é Amy Winhouse, afinal, ela tem tudo que é necessário para entrar no halll da eternidade: É jovem, talentosa demais e infinitamente triste.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

ESPERANDO MICHAEL




Michael Jackson morreu...
Essa frase foi provavelmente a mais dita e ouvida no mundo inteiro nesse 26 de junho de 2009. Ainda assim, não parece fazer muito sentido. Ora, Michael não era eterno?
A impressão que temos nesses dias é que algo está terrivelmente errado com o mundo, e não se trata do aquecimento global, nem das eleições no Irã, tampouco da Susan Boyle ter perdido a final de Idols para um grupo de dança bonitinho, mas ordinário.
A música de Jackson está tocando em todas as rádios, sem contar os especiais que são anunciados a cada 10 minutos. Todas as TVs estão colocando chamadas para programas exclusivos (ainda que usem as mesmas – e super batidas - imagens). A impressão que se tem ao andar nas ruas do centro do Rio é a de que estamos em algum filme que tem a trilha sonora do popstar. Porque os camelôs, lojas, lanchonetes e prédios comerciais, também tocam o astro sem parar. Resultado: Michael está em inúmeros lugares ao mesmo tempo.
Ele deixou de ser uma pessoa para se tornar um vírus que vai atingir milhões de pessoas no mundo e render zilhões de euros. Se era um produto esquisito, mas que ainda vendia bem, agora é uma fábrica de fazer dinheiro.
Obviamente, as teorias sobre o que aconteceu começam a pipocar: Michael não morreu. Ele pegou o dinheiro dos shows agendados e vendidos para viajar e assumir o romance secreto com Elvis, que, claro, não morreu também; Michael não morreu, porque na verdade nunca existiu, era apenas parte de um projeto criado para enlouquecer as pessoas com um gritinho estridente; Michael morreu há muitos anos e foi substituído por outro cantor. A prova é que essa cópia andava para trás e gravou um clipe nos anos 80 ao lado do sósia de Paul McCartney, que morreu nos anos 60; Michael matou um de seus 593 sósias e veio para o Brasil. Vai morar no morro Dona Martha, em Botafogo. Ele teria comprado o lugar quando esteve por aqui. Por isso que não tem mais bandido lá, né?; por fim, Michael desistiu dessa vida de astro, tomou um remédio para virar negro e vai morar na Africa.
Todos os horrores da vida de Michael virão à tona e até o que nunca aconteceu vai se tornar a pura verdade. A infância brilhante e triste serão enfatizadas, o pai dele será execrado pelos maus tratos, os irmãs vão gravar um album ao vivo e cantarão junto ao brother famoso, que estará presente em um telão. Sem contar que paranormais começarão a receber mensagens em forma de sussurros e começarão a dançar freneticamente ans sessões espíritas.
Não é difícil imaginar que alguem um dia escreverá a peça: Esperando Michael. Afinal, ele será o elemento que estava para vir... Em seu lugar, teremos apenas a voz sepulcral e a gargalhada apavorante de Vincent Price pairando no ar.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

A TEORIA DA PREVISIBILIDADE

As pessoas poderiam evitar muitos problemas se usassem o artifício poderoso e totalmente eficaz da TP, Teoria da Previsibilidade.
Sua aplicação é simples, pois trata-se da utilização da fórmula: bom senso + noção de lógica. Vamos citar alguns exemplos:


O chefe convida a secretária para jantar num dia qualquer da semana pois tem assuntos da empresa que prefere conversar em particular. TP = 99% de possibiliade da noite terminar com um assédio sexual e/ou uma ameaça de demissão (no caso de uma negativa).


O noticiário da tv mostra uma cratera de 50 metros de diâmetro em uma rua de um bairro do subúrbio do Rio de Janeiro. Autoridades vão consertar o lugar em até 48 horas. TP = O buraco continuará aberto por meses, quando será feita uma nova reportagem. Depois continuará aberto, e depois.

Um candidato à presidência, oriundo das classes menos favorecidas, diz que nada vai mudar no seu modo de ser caso seja eleito. TP = Você nem vai reconhecer o homem depois da eleição.


O noticiário da tv mostra uma cratera de 50 metros de diametro em uma rua na zona sul do Rio, onde mora o governador do Estado. TP = o buraco será consertado em menos de uma hora e pessoas serão demitidas.

Uma famosa escola de samba carioca diz que vai entrar na avenida com um mega carro alegórico fantástico e extraordinário de cerca de 100m de comprimento e vai ‘quebrar tudo’, ganhar o carnaval etc. TP = o carro nem vai entrar na avenida porque vai enguiçar ou bater em alguma coisa e aí, sim, quebrar tudo. Por causa disso, a escola perderá vários pontos e cairá pra o grupo de acesso.

Flamengo contrata craque argentino que se apresenta na Gávea, beija a camisa, chora e diz que seu sonho sempre foi jogar nesse time. TP = alguns meses depois de não fazer gols o jogador será vendido para o Vasco da Gama. Lá, ele repetirá o discurso e o gesto.

Empresa diz que vai realizar uma reengenharia e dinamizar os serviços. Todos os funcionários serão beneficiados ao final do processo. TP = demissão em massa
Presidente da República vai a público e diz que um terceiro mandato é algo inimaginável. TP = algo inimaginável vai acontecer.

O ano de 2012 se torna ‘cabalístico’ por causa de uma profecia Maia. TP = autores que ‘acreditam’ no fim do mundo ganharão milhares de dólares com filmes, livros etc. Só não vão explicar o que farão com as fortunas já que planeta vai acabar.

Aviso sobre uma pandemia coloca o mundo em estado de alerta sobre a gripe súina, mas autoridades brasileiras afirmam que não há com o que se preocupar. TP = Hospitais não darão conta do número de infectados.

Polícia do Rio sobe um morro e mata dez pessoas. Segundo o porta-voz da corporação, eram todos traficantes perigosos. TP = È quase certo que o pipoqueiro da favela e o garoto de 2 anos não eram traficantes.

Atriz de 60 que pensa ter 20 é vista na noite com garoto e diz que está apaixonada. TP = Esse caso vai acabar em algum escândalo e ela continuará em evidência.

Escândalos envolvem ministros do Supremo, senadores e deputados: dólares na cueca, fazendas com trabalho escravo, nepotismo, compra de passagens irregulares com dinheiro público, contas secretas etc etc. TP = uma gigante de calabresa

quarta-feira, 24 de junho de 2009

"Acontece que essa vida por aqui pode ser bem divertida, de tão estranha que é!".

Algumas obras transcendem sua aparente limitação de tempo e espaço e ressurgem a todo momento como referência para filmes, séries de tv e mesmo debates filosóficos sobre a existência... é o caso de Alice no País das Maravilhas.
Para grande parte da população mundial que conhece a historia, Alice é uma obra destinada a crianças. Excetuando-se o fato da personagem principal ser uma menina, a história passa um pouco longe daquelas com finais felizes ou lições demoral. Alice é uma garota que não sabe quem é nem onde está... não há também um príncipe para resgatá-la... cada personagem que encontra pelo caminho faz menos sentido que o anterior... enfim: não é um conto de fadas.
O aspecto surrealista da aventura encerra uma série de assuntos que só fazem sentido à luz da filosofia, sobretudo a tentativa vã da descoberta do EU... afinal, quem somos? "Receio que não possa me explicar, Dona Lagarta, porque é justamente aí que está o problema. Posso explicar uma porção de coisas mas não posso explicar a mim mesma" diz Alice, numa das várias conversas quem tem com personagens bizarros. "Mas se eu não sou a mesma, a próxima pergunta é: Quem é que eu sou? Ah, essa é a grande charada." Outra sacada de Alice, que parece perceber não haver resposta apropriada que atenda a todas as expectativas. Sejam as nossas ou as do meio que nos cerca.
A filosofia e suas eternas questões, no entanto, são apenas a ponta do iceberg. Lewis Caroll construiu uma história que mexe com o tecido da realidade. Não se trata apenas de um sonho, como parece a um observador de superfície. Alice entra em um mundo em que faz a diferença, é o estranho elemento de mudança do lugar. Ela se dá conta de que pode fazer aparecer coisas, se movimentar naquele mundo com uma liberdade que não teria em outra realidade, como a que deixou acima. Inversamente proporcional, Alice descobre dentro da caverna o que os habitantes da mente de Platão descobriram fora da escuridão. É ali, nas trevas, que Alice percebe a liberdade, ainda que esta não seja exatamente algo que tivesse imaginado.
Famosas obras da cultura pop beberam dessa fonte com resultados extraordinários: MATRIX e LOST, por exemplo. Na primeira, Neo se vê obrigado a seguir o coelho branco, isso, no fim, o leva à libertação, ao nirvana. Em LOST, há inúmeras referencias, com destaque para uma cena, na quarta temporada, em que Jack, o médico, lê um trecho de Alice para Aron, seu sobrinho. Nesta série, os sobreviventes do avião se vêem em um lugar estranho, em que as leis da física não se aplicam o tempo todo. Mais, cada um quer descobrir quem é, na verdade. Em comum, essas produções trabalham conceitos de realidades alternativas. Ficção pura? Bem, não é o que diz a física quântica, que apresenta estudos científicos cada vez mais abalisados pela comunidade científica mundial. Caroll, talvez sem se dar conta, anteviu um mundo que fica mais estranho a cada dia.
Esse dois exemplos dão uma idéia da real profundidade em que a garota se mete ao seguir o coelho apressado. O leque de interpretações vai das análises da crítica social, da adolescência cheia de questionamentos, até o vasto universo que é a mente humana.


Leia e faça sua própria viagem.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

NO AR, MAIS UM CAMPEÃO DE AUDIÊNCIA



A indústria da informação vive de grandes comoções, e se as atividades cotidianas de atrizes de 60 que pensam ter 20, políticos, os pequenos acidentes e delitos urbanos, alguns confrontos rurais (envolvendo o MST ou alguma tribo pseudo-canibal) e os gols da rodada fazem parte do cardápio trivial, algo como o acidente do vôo 447 da Air France é considerado como indicação do cheff.
O avião, recheado de brasileiros, franceses e outros passageiros, simplesmente ‘desapareceu’. Esse ingrediente é ainda mais apreciado por redatores e reporteres, que podem lançar mão de inúmeras atrações para o público, como gráficos e animações mostrando o que pode (ou não) ter acontecido, as rotas que o avião pode ter tomado, as hipotéticas decisões do piloto, as possibilidades de sobrevivência. Tudo que é impreciso começa a ganhar contornos dramáticos, especialistas em aviação, civis e militares, se tornam atores principais nos telejornais e criam teorias para explicar o que simplesmente não se sabe.
Um dia depois do acidente a notícia já deu lugar à pura especulação. Nada se sabe sobre o avião, não se sabe sequer o número exato de passageiros (este sim, um verdadeiro absurdo). Quem está no Brasil 'sabe' que havia 57 brasileiros, se estiver na França o número sobe para 58.

Não obstante, já se sabe quem estava a bordo, quer dizer, já se sabe quem era famoso, ou rico, e que estava a bordo, como membros do governo, representantes de grandes empresas e... um príncipe tupiniquim. A manchete de um dos jornais cariocas no dia seguinte era: príncipe brasileiro estava a bordo. Bem, nesse momento, quem acreditava que vivia em uma república se sente enganado.
A lista de passageiros não é divulgada pelos franceses, mas o resto do mundo sabe e divulga, o que torna a decisão francesa uma bobagem em tempos de comunicação em tempo real e imediato. Mesmo assim, os números não batem.
Os repórteres se amontoam aqui e na França, no intuito nobre de transmitir informações. Só que o espetáculo é mais interessante que essa escassez de fatos. Assim, programas especiais são gerados às pressas, parentes dos famosos desaparecidos são entrevistados, casos como o de um casal de idosos, que pretendia comemorar bodas em Paris, ganham ecos de personagens do Titanic, anônimos com história comovente é um prato cheio, sempre. Há também o caso de dois passageiros que vieram entregar doações para brasileiros necessitados e retornavam de sua missão humanitária (isso fez com que a comunidade do Orkut: bonzinho só se fode! ganhasse mais algumas dezenas de adeptos). Enfim, os passageiros receberam um inesperado upgrade em suas vidas, ainda que jamais quisessem algo assim.
Em terra firme, a imprensa descobre os ‘milagres’. Sim, pois há aqueles agraciados pelo destino, ou pelo que quer que suas religiões usem para explicar, pessoas que simplesmente perderam o vôo. OH!!! Um não embarcou porque o passaporte estava irregular, outro porque perdeu os óculos, aquele porque ficou entretido no aeroporto com a amante, e por aí vai. O fato é que se tornam também celebridades. Mais programas são montados para ‘explicar’ a razão desses ‘mistérios’ que salvam pessoas da morte certa. Não é dito que centenas de aviões decolam todos os dias, e na mesma proporção, inúmeros passageiros perdem vôos. Nesses casos, são demitidos por atraso, têm que se explicar com as esposas (ou maridos), perdem contratos importantes, aulas etc etc.

Em acontecimentos como o do vôo 447 existe, secreto, o desejo que a situação se perpetue por mais tempo, pelo menos enquanto durar a curiosidade mórbida-solidária do ser humano. Ao contrário de tsunamis ou outras catástrofes, um avião desaparecido impede ajuda feita através de depósito em contas-corrente, doação de alimentos e roupas (que serão desviados, também misteriosamente, no caminho) e deixa no ar a sensação de que ainda falta a sobremesa.
Afinal, o que terá acontecido ao vôo 447? Teóricos da conspiração sugerem um rapto; partidários dos grupos boderlines do 11 de setembro garantem que Bin Laden seqüestrou o avião para jogá-lo do meio do oceano, explodi-lo com ogivas nucleares e causar um maremoto para devastar alguma capital judaico-cristã; o pessoal da ufologia não têm dúvidas: foi abduzido, e nunca mais teremos notícias.
Na verdade, pilotos experientes dizem que passam por nuvens cumulus nimbus (agora todos sabem o que é uma, certo?) diariamente, e que uma aeronave tão tecnologicamente avançada como aquela, com uma tripulação tão qualificada, não seria pega de surpresa por descargas elétricas facilmente previsíveis. Bastava desviar de algumas nuvens cumulus (você ainda não sabe o que é??? Como assim?). Razões para não ter acontecido o que aconteceu não faltam, explicações pululam, a imprensa embevecida agradece a mais esse campeão (involuntário) de audiência.

No mundo real, longe das mídias e dos vampiros, famílias desesperadas, ávidas por notícias, olham para o céu e rezam a procura de alento.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

É PRECISO ACREDITAR!




É PRECISO ACREDITAR em alguma coisa! Talvez essa seja a frase mais conhecida do mundo. Os especialistas, sejam filósofos acadêmicos e/ou de botequins, partem da premissa básica de que, ou você acredita ou você não existe. Antes de ser, é preciso acreditar.
Assim, a vida vai ganhando seus contornos. As crianças, a partir do momento que se percebem, passam a acreditar em algo. Seja na mãe, no pai, no Papai Noel ou qualquer outra coisa. Elas acreditam no bem e no mal, baseadas unicamente no que ouvem dos mais velhos. Acreditam que eles sabem mais. E não importa se pareçam, por vezes, pessoas solitárias, distantes, se brigam demais ou riem de coisas absurdas.

Na adolescência, descobre-se que é preciso acreditar em outras coisas. Acredita-se, por exemplo, que se é eterno, por isso pode-se fazer qualquer coisa e tudo acaba bem. Aí, nesse tempo, os mais velhos são apenas obsoletos, donos de conceitos ultrapassados. Os conselhos, as palavras, as broncas... tudo obsoleto. Coisa de quem não entende nada e pensa que sabe tudo. Acredita-se então nos ídolos, na tv, no cinema e principalmente no que os amigos dizem sobre roupas e cabelos. Sejam amigos do twiter, msn, orkut ou qualquer outro mecanismo de amizade virtual. Quem disse que para estar junto precisa estar perto? Esse é o lema dos meninos e meninas que acreditam nessa forma de se conhecer alguem.
Na contra-mão, os adultos acreditam que essa geração é pior que a anterior, que, por coincidência era a sua. Julgam por parâmetros que simplesmente não fazem sentido algum para quem nem existia naqueles tempos. Ora, a gente mesmo não consegue acreditar que houve um dia em que não havia celular e que as crianças brincavam nas ruas sem medo de bala perdida, imagine quem tem 15 anos.
Acredita-se que Luciana Gimenez não planejou um filho com um Rolling Stone; que Ronaldinho não sabia que levou três travestis com cara de homem para cama; Que não existe armação no BBB; Que Dado Dolabella é um cara maneiro... acredita-se em cada coisa!
De crença em crença, cada um vive seus universos. Acredita-se em chás para emagrecer (você deve conhecer uma amiga que já experimentou todos, acreditou em todos, e continua gorda); máquinas de fazer atletas em casa (shaper disso, shaper daquilo etc) que enferrujam por desuso; raspadinha, loteria, ficar rico com um trabalho honesto (não... pouca gente acredita nisso). Tem gente que consegue acreditar em política profissional, e diz que não há como viver sem ela. Tem gente que acredita que democracia é um governo feito pelo povo e para o povo.
E não podemos esquecer que quando tudo começa a dar errado é preciso acreditar no sobrenatural. Temos os espíritas, que acreditam em reencarnação para resolução de problemas; indianos que, além de multicoloridos, acreditam em reencarnação sem motivo nem fim; os judeus, que acreditam que são o povo escolhido e não acreditam em Jesus; os cristão que não acreditam que alguem, como os judeus, não acreditam em Jesus. Temos também os que não acreditam em nada porque acreditam que não há no que acreditar.
Acredita-se no amor, o problema é que esse amor é totalmente subjetivo, e depende de quem ama, e a quem se ama. Acredita-se que existe uma fórmula para relacionamentos, seja uma entrega absoluta, uma certa distancia, uma troca ou que amar é apenas afinar o instrumento, de dentro pra fora, de fora pra dentro.
Mas, seja no que for, acreditar é preciso, viver não é preciso.

segunda-feira, 30 de março de 2009

DESOLATION ROW





Crise...


Essa palavra nunca sai de moda, talvez porque não seja algo passageiro. Quem sabe não é uma constante na condição humana?

Viver bem parece ser objetivo do homem, mas engana-se quem pensa nisso de uma maneira simplória. Inicialmente, viver bem, ser feliz, é algo infinitamente particular. Eu posso chorar de algo que causa câibras de riso em outro algúem, e vice-versa.

Atualmente, a crise mais 'legal' é a financeira, que teve origem nos EUA, há muito e muito tempoa trás... só que ninguém viu. Ou, ninguém quis ver.

Nesse cenário caótico, nescios do mundo se regozijaram, afinal, numa demonstração de grandeza, Obama Barack, um negro, foi eleito. Não se questionou que o novo presidente, longe de ser um super-herói, pode se tornar um martir nesse processo. Ou pior, dependendo de suas ações, pode representar um retrocesso tão histórico na civilização ocidental quanto foi sua eleição.

De fora, podemos dizer que os EUA são o país mais... mais... de todos, em todos os tempos. E um dos motivos é a sua maneira de anexar territórios sem precisar recorrer à violência explícita, salvo em casos pré-fabricados, como no Iraque, ou no Afeganistão. Nunca pareceu estranho o fato do governo americano jamais ter pego Osabma bin Laden? Pois é... eles não pegam quem não querem.

O que usamos, falamos, vemos etc tem muito deles. A internet, por exemplo, obriga você a saber inglês, mesmo que você não saiba. Olhe seu teclado e tenha medo... muito medo. Sim, voce foi abduzido e nem sentiu.

Mas, eles estão em crise...

Assim, agora é normal ver pessoas, familias inteiras, morando dentro de carros, filas de desempregados, empresas quebrando e fazendo com que milhares de empregos desapareçam da noite para o dia. Essa mágica cria um horizonte de tempestade para uma multidão de desempregados que não pára de crescer. Nesse efeito dominó, o mundo está na balança.

Quem poderia derrotar os EUA? eles mesmos, ora...

O problema é que ao fazer isso geram uma série de ranços, de exaltações, de ultranacionalismos que tendem a se agravar. E, naturalmente, algo surgirá para mudar o panorama e criar de novo grandes esperanças na população mundial. Outra constante na equação de nossa espécie, que precisa de messias sazonais. Lembram da Alemanha, de Cuba, do Irã...

De repente, o liberalismo econômico cede espaço a ações estatizantes, algo impensável algum tempo atrás. E longe de significar um alívio, tais medidas demonstram um tom de desespero, de 'não sei o que fazer', de 'agora fud...'.

E o que isso tem a ver com a gente? Tudo, ora...

Infelizmente, os bilhões de que ouvimos falar semanalmente, liberados para salvar bancos e outras instituições acima de qualquer suspeita, não surgem de algum mundo encantado. E na terra das oportunidades, acima do que vemos na tv, um tsunami começa a se formar, uma onda como jamais vimos, ameaçando desabar sobre o mundo todo.

quinta-feira, 26 de março de 2009

NO MEIO DO CAMINHO HAVIA UM DRUMMOND



Pensativo, pernas cruzadas, um livro nas mãos. Lá está ele. Absorto, livre, em alguma esquina de Pasárgada, nas terras de um amigo do rei, alheio às ondas da princesinha do mar, que quebram às suas costas, às partidas de futebol e volei, alheio... mas, de alguma forma, atento.
Como um artista, desses que vêm ao Brasil uma ou duas vezes na vida, Drummond se vê assediado. Ora, são aqueles anônimos que sentam ao lado, e com receio de pedir um autógrafo, fingem que nem notaram o tímido mais famoso de nossa literatura. Avesso à popularidade que seu trabalho despertou, Drummond fica bastante contrariado com tantas fotos, todas sem permissão. Alguns "apressadinhos" precipitam-se sobre seu pescoço, se enroscam como uma serpente e colam o rosto para um flagrante eterno. Pedem um sorriso, mas isso é perda de tempo. O movimento certamente o aborrece. Preferia que o deixassem em paz, que entendessem que o corpo do poeta é mero complemento. Adereço, talvez. A vida, tudo que ela é, e o que nunca será, está nas palavras, às vezes ditas, muitas vezes impressa em papel e no coração.
Mas, nesse tempo de cultura de massa e imersão de valores, quem está interessado em pensar, em ler? Um garoto se aproximou, olhou, perguntou ao pai quem era aquele velhinho verde, e obteve sua resposta. Olhou de novo, e perguntou se o poeta participava de chats, qual era o site oficial e quando sairía o DVD. E Drummond pensou, "no meio do caminho havia um gigabite...".
O poeta tem a certeza de que o escultor não quis lhe prestar homenagem alguma. Ao contrário, queria fazer uma brincadeira (de muito mau gosto). Ora, será que o cidadão não conhecia as mil e uma histórias sobre a timidez do homenageado? A essa altura, Drummond, exposto ao sol e à chuva, se pergunta o que levou alguém a tamanha insensatez. Paz e tranquilidade, agora? Só nos dias de tempestade, isso, se os surfistas não resolverem pedir algum conselho. Demorô, brou ! Seu óculos já foi levado inúmeras vezes.
A tarde cai. O poeta lembra dos bons e velhos dias, em que as homenagens à sua memória se limitavam às escolas, à leitura, ou reimpressão de seus livros e artigos. Aos poucos, o assédio diminui. Os carros da Atlântica se tornam escassos, e depois de tanto burburinho a calma parece chegar. O som do mar recita versos, trechos de colóquios entre sereias e tritões. A sensação o leva para Itabira, para uma janela, de onde pode contemplar a vida besta que passa. Deixa escapar um leve sorriso ao lembrar de Teresa. Mas, quando tudo parecia tranquilo, eis que percebe a chegada de alguns garotos. Um deles está agitando uma lata... um spray.


quinta-feira, 12 de março de 2009

O CASO DA VÓ JUREMA






Era uma típica família classe média. Só não era mais típica porque a classe foi embora com a crise. Marcos, Marcia, o filho Julinho e a vó Jurema, mãe de Marcos, que morava com eles na espaçosa casa do Grajaú.
O chefe da casa não era chefe, Márcia ganhava mais e tomou conta do posto no último verão. Ele, professor de inglês, ela, advogada arrependida. Julinho fazia medicina, e vó Jurema, do alto de seus 90 anos, começava a regredir.
A tempestade começou depois que Marcos perdeu o emprego. Mais ou menos nesse período, vó Jurema passou a se trancar, sistematicamente, no banheiro de empregada. Ela se fechava e depois começava a gritar por socorro. No início, acontecia apenas de madrugada, mas, não tardou a evoluir. Na festa que Julinho fez para os amigos da escola ela ficou lá por cerca de três horas.
Marcos não conseguia dar aulas particulares, irritava-se com tudo, principalmente com alunos que não conseguiam pronunciar "thieves" direito. Márcia passou a chegar tarde em casa e ainda reclamava porque o jantar não estava pronto. Julinho só não reclamava porque o piercing que colocou na língua incomodava demais, e, além disso ele vivia nas raves. Aliás, nas últimas vezes em que parou para conversar com os pais percebeu que não tinha mais nada a dizer. Vó Jurema estava cada vez mais desligada e ia ao banheiro com frequência. Mas, sempre que abriam a porta para "salva-la"... ela estava rindo.
Marcos se preparou para o divórcio. Sabia que isso magoaria a esposa, com quem estava há quase dez anos. Sentou no sofá. Vó Jurema sentou na poltrona em frente. Ele disse que as coisas iam mudar muito a partir daquele dia, a avó riu e disse: "Heinn?". Márcia não demorou muito.
Antes que ele pudesse dar início ao capítulo final de seu relacionamento, Márcia pediu um minuto. Disse que o casamento estava acabado, ele disse, "eu sei!", e ela arrematou dizendo que há dois meses estava tendo relações com um cliente. Ele disse "Eu mato esse cretino!", ela disse, "É o Boca-suja, aquele traficante", ele retrucou, "é... não vale a pena brigar. Violência não leva a nada mesmo".
Marcia arrumou as malas com uma rapidez que deixou Marcos intrigado, o quanto ela fingira ao longo dos anos? Vó Jurema levantou. Ele se perguntou do que ela estava rindo, mas deixou pra lá. A porta da sala abriu e Marcos levou um susto ao ver um homem careca, com 90% do corpo coberto de tatuagens, entrando sem pedir licença. Resolveu encarar, ainda era o homem da casa, ou algo assim. "Ei, tá pensando que isso aqui é o quê? Tá pensando que vai entrando assim? Quem é você meu chapa?", perguntou, assumindo postura desafiadora. "Ih, pai, sou eu o Julinho, tá ligado?".
Pouco depois, Márcia passou pela sala carregando sua mala. Olhou para Julinho como se não o conhecesse mais, e disse que depois voltaria para pegar o resto das coisas. De repente, ouviram uma voz vinda do banheiro. O famoso pedido de socorro. Deram um sorriso, pelo momento em que o fato se repetia. E foram os três juntos libertar vó Jurema.
Abriram a porta do banheiro, mas não havia ninguém lá. Resolveram ficar juntos e procurar a fujona. Isso já faz mais de três anos. De vez em quando, ao verem televisão juntos, têm a impressão de ouvirem algo vindo do banheiro... algo como um sorriso matreiro.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

PARANÓIAS DE NOVA YORK EM 2025 - II

Acordei cansado. Sem vontade de levantar. Acho que é por causa do tempo. Também, essa nuvem cinza não passa. Fui até a cozinha, preparei o café sintético. Coloquei as luvas e peguei o jornal, levei até o identificador de armas químicas. Nada na tinta...nada no papel. Nada de novo no mundo. A Africa foi declarada, oficialmente, zona de experimentação, e os últimos testes com a B999 mostram que o ser humano realmente não resiste às moléculas de desintegração em massa. O problema é que a matéria-prima para os testes já se torna escassa. Esses jornalistas exageram. Se acabar, a gente pode experimentar nos brasileiros.

Às vezes sinto falta da televisão, mas, desde que revelaram que os terroristas haviam descoberto uma forma de hipnotismo suicida através das ondas e dos programas de auditório eu é que não vou me arriscar. Fiquei um tempo ouvindo o velho Bruce e sua "Born in the USA". Ele é demais... quer dizer, era. Não dá pra acreditar que jogaram um avião no palco, ainda não me acostumei. Só sobrou o Michael Jackson, mas, quem é que vai confiar num cara verde-metálico?
Bem, segui então para o meu trabalho. O carro não funciona direito desde o último pulso eletromagnético. Mas, acabou pegando. Pelo caminho, vi crianças brincando em um parque. Lembrei do tempo em que elas não usavam pele artificial, nem precisavam de roupas plásticas anti-tóxicas. Aliás, nem sei como elas conseguem correr com aqueles aparelhos de ar nas costas. Ah, reparei também numa senhora com uma sacola de compras. Parecia bem, apesar do exoesqueleto. Acho que a pior arma que usaram contra a gente foi a que acelerava a osteoporose. Num belo dia, fui brincar com um sobrinho, e quando o segurei pela cintura o moleque quebrou ao meio.

As câmeras de vigília são realmente fantásticas. Ninguém mais reclama de ser observado dentro e fora de casa. Claro que o toque de recolher e a Lei Marcial ajudam nessa calmaria. Chato foi acabar com o basquete e os outros esportes. Tudo por culpa daqueles terroristas idiotas e suas bactérias disseminadas pelo suor.

Quando chego à portaria do prédio percebo que ainda não me adaptei. Esse negócio de ficar mais de vinte minutos na descontaminação é horrível! Só que o pior é trabalhar com propaganda. As coisas estão difíceis, as pessoas vivem com tanto medo que pensam dez anos antes de comprar um novo produto. Se ao menos ainda tivéssemos o mercado europeu. Quer dizer, se ainda houvesse uma Europa.

O dia foi longo, até porque, os malditos chineses disseram que não vão aceitar um acordo de paz. E o nosso presidente ainda quer que fiquemos calmos. Disse, na última transmissão, que nada vai abalar a confiança do povo americano no seu governo, e suas decisões acertadas. Particularmente, não acho que foi uma boa idéia derrubar a Muralha, e, além do mais, é fácil pedir calma ao povo falando de uma confortável estação lunar.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

VALORES


VALORES


Ela chegou calada, como de costume. Ele estava lendo um livro, como de costume. Ela sentou ao seu lado no sofá, como de costume.

- Precisamos conversar.
- Conversar...
- Olha, eu sei que a gente não está muito bem. Que as coisas esfriaram nos últimos meses. Acho que faz parte, que as coisas são assim mesmo.
- Assim mesmo.
- Bem, eu pensei muito, muito. Afinal, bem, estamos juntos há vinte anos.
- Vinte anos...
- Pois é, acho que fizemos nossa história, tivemos momentos inesquecíveis. Lembra de 94, em -Paris? Ah, acho que nunca me senti tão feliz.
- Feliz.
- É, isso!
- Isso.
- No início era até legal, mas não é mais. Eu preciso me encontrar, e decidi que...que...não vai ser com você.
- E?
- Como, "e"? estou dizendo que estou encerrando nosso relacionamento. Sei que é um choque para você, mas não dá mais. Por favor, não insista. Eu cresci muito e você também, somos dois adultos e não precisamos agir como trogloditas.
- Trogloditas.
- É o F I M, entendeu? Chega, não agüento mais suas manias perfeccionistas, seu jeito de desdenhar das minhas amizades, sua esquizofrenia debilóide de não dar atenção e ainda ficar repetindo sempre as últimas palavras das pessoas. Acho que você não está me levando a sério, mas eu te digo, é bom você se acostumar em nunca mais me ver. Quer fazer o favor de olhar pra mim e largar esse livro idiota???!
- É do Gabriel Garcia Marquez.
- E daí? É um idiota, como você é um idiota. Todos os homens são idiotas! Quer saber. Eu tenho outro.
- Outro idiota?
- É grrrr!!! muito melhor que você! É o Arnaldo. Isso mesmo, seu advogado. Pronto, falei.
- Tudo bem.
- Tudo bem? Eu sabia que você era frio, mas isso é ridículo! - ela levanta furiosa e faz a mala. Põe o seu melhor vestido, enxuga as lágrimas e volta à sala. Ele ainda está lendo.- Acho que isso é um adeus.
- Eu queria te pedir uma coisa.
- Não adianta você pedir pra eu ficar. Acabou, entendeu? Acabou!
- Tá, tá, eu sei... faz um favor? Desliga o fogo antes de sair, os meus ovos cozidos já devem estar prontos.