quarta-feira, 24 de junho de 2009

"Acontece que essa vida por aqui pode ser bem divertida, de tão estranha que é!".

Algumas obras transcendem sua aparente limitação de tempo e espaço e ressurgem a todo momento como referência para filmes, séries de tv e mesmo debates filosóficos sobre a existência... é o caso de Alice no País das Maravilhas.
Para grande parte da população mundial que conhece a historia, Alice é uma obra destinada a crianças. Excetuando-se o fato da personagem principal ser uma menina, a história passa um pouco longe daquelas com finais felizes ou lições demoral. Alice é uma garota que não sabe quem é nem onde está... não há também um príncipe para resgatá-la... cada personagem que encontra pelo caminho faz menos sentido que o anterior... enfim: não é um conto de fadas.
O aspecto surrealista da aventura encerra uma série de assuntos que só fazem sentido à luz da filosofia, sobretudo a tentativa vã da descoberta do EU... afinal, quem somos? "Receio que não possa me explicar, Dona Lagarta, porque é justamente aí que está o problema. Posso explicar uma porção de coisas mas não posso explicar a mim mesma" diz Alice, numa das várias conversas quem tem com personagens bizarros. "Mas se eu não sou a mesma, a próxima pergunta é: Quem é que eu sou? Ah, essa é a grande charada." Outra sacada de Alice, que parece perceber não haver resposta apropriada que atenda a todas as expectativas. Sejam as nossas ou as do meio que nos cerca.
A filosofia e suas eternas questões, no entanto, são apenas a ponta do iceberg. Lewis Caroll construiu uma história que mexe com o tecido da realidade. Não se trata apenas de um sonho, como parece a um observador de superfície. Alice entra em um mundo em que faz a diferença, é o estranho elemento de mudança do lugar. Ela se dá conta de que pode fazer aparecer coisas, se movimentar naquele mundo com uma liberdade que não teria em outra realidade, como a que deixou acima. Inversamente proporcional, Alice descobre dentro da caverna o que os habitantes da mente de Platão descobriram fora da escuridão. É ali, nas trevas, que Alice percebe a liberdade, ainda que esta não seja exatamente algo que tivesse imaginado.
Famosas obras da cultura pop beberam dessa fonte com resultados extraordinários: MATRIX e LOST, por exemplo. Na primeira, Neo se vê obrigado a seguir o coelho branco, isso, no fim, o leva à libertação, ao nirvana. Em LOST, há inúmeras referencias, com destaque para uma cena, na quarta temporada, em que Jack, o médico, lê um trecho de Alice para Aron, seu sobrinho. Nesta série, os sobreviventes do avião se vêem em um lugar estranho, em que as leis da física não se aplicam o tempo todo. Mais, cada um quer descobrir quem é, na verdade. Em comum, essas produções trabalham conceitos de realidades alternativas. Ficção pura? Bem, não é o que diz a física quântica, que apresenta estudos científicos cada vez mais abalisados pela comunidade científica mundial. Caroll, talvez sem se dar conta, anteviu um mundo que fica mais estranho a cada dia.
Esse dois exemplos dão uma idéia da real profundidade em que a garota se mete ao seguir o coelho apressado. O leque de interpretações vai das análises da crítica social, da adolescência cheia de questionamentos, até o vasto universo que é a mente humana.


Leia e faça sua própria viagem.

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