segunda-feira, 30 de março de 2009

DESOLATION ROW





Crise...


Essa palavra nunca sai de moda, talvez porque não seja algo passageiro. Quem sabe não é uma constante na condição humana?

Viver bem parece ser objetivo do homem, mas engana-se quem pensa nisso de uma maneira simplória. Inicialmente, viver bem, ser feliz, é algo infinitamente particular. Eu posso chorar de algo que causa câibras de riso em outro algúem, e vice-versa.

Atualmente, a crise mais 'legal' é a financeira, que teve origem nos EUA, há muito e muito tempoa trás... só que ninguém viu. Ou, ninguém quis ver.

Nesse cenário caótico, nescios do mundo se regozijaram, afinal, numa demonstração de grandeza, Obama Barack, um negro, foi eleito. Não se questionou que o novo presidente, longe de ser um super-herói, pode se tornar um martir nesse processo. Ou pior, dependendo de suas ações, pode representar um retrocesso tão histórico na civilização ocidental quanto foi sua eleição.

De fora, podemos dizer que os EUA são o país mais... mais... de todos, em todos os tempos. E um dos motivos é a sua maneira de anexar territórios sem precisar recorrer à violência explícita, salvo em casos pré-fabricados, como no Iraque, ou no Afeganistão. Nunca pareceu estranho o fato do governo americano jamais ter pego Osabma bin Laden? Pois é... eles não pegam quem não querem.

O que usamos, falamos, vemos etc tem muito deles. A internet, por exemplo, obriga você a saber inglês, mesmo que você não saiba. Olhe seu teclado e tenha medo... muito medo. Sim, voce foi abduzido e nem sentiu.

Mas, eles estão em crise...

Assim, agora é normal ver pessoas, familias inteiras, morando dentro de carros, filas de desempregados, empresas quebrando e fazendo com que milhares de empregos desapareçam da noite para o dia. Essa mágica cria um horizonte de tempestade para uma multidão de desempregados que não pára de crescer. Nesse efeito dominó, o mundo está na balança.

Quem poderia derrotar os EUA? eles mesmos, ora...

O problema é que ao fazer isso geram uma série de ranços, de exaltações, de ultranacionalismos que tendem a se agravar. E, naturalmente, algo surgirá para mudar o panorama e criar de novo grandes esperanças na população mundial. Outra constante na equação de nossa espécie, que precisa de messias sazonais. Lembram da Alemanha, de Cuba, do Irã...

De repente, o liberalismo econômico cede espaço a ações estatizantes, algo impensável algum tempo atrás. E longe de significar um alívio, tais medidas demonstram um tom de desespero, de 'não sei o que fazer', de 'agora fud...'.

E o que isso tem a ver com a gente? Tudo, ora...

Infelizmente, os bilhões de que ouvimos falar semanalmente, liberados para salvar bancos e outras instituições acima de qualquer suspeita, não surgem de algum mundo encantado. E na terra das oportunidades, acima do que vemos na tv, um tsunami começa a se formar, uma onda como jamais vimos, ameaçando desabar sobre o mundo todo.

quinta-feira, 26 de março de 2009

NO MEIO DO CAMINHO HAVIA UM DRUMMOND



Pensativo, pernas cruzadas, um livro nas mãos. Lá está ele. Absorto, livre, em alguma esquina de Pasárgada, nas terras de um amigo do rei, alheio às ondas da princesinha do mar, que quebram às suas costas, às partidas de futebol e volei, alheio... mas, de alguma forma, atento.
Como um artista, desses que vêm ao Brasil uma ou duas vezes na vida, Drummond se vê assediado. Ora, são aqueles anônimos que sentam ao lado, e com receio de pedir um autógrafo, fingem que nem notaram o tímido mais famoso de nossa literatura. Avesso à popularidade que seu trabalho despertou, Drummond fica bastante contrariado com tantas fotos, todas sem permissão. Alguns "apressadinhos" precipitam-se sobre seu pescoço, se enroscam como uma serpente e colam o rosto para um flagrante eterno. Pedem um sorriso, mas isso é perda de tempo. O movimento certamente o aborrece. Preferia que o deixassem em paz, que entendessem que o corpo do poeta é mero complemento. Adereço, talvez. A vida, tudo que ela é, e o que nunca será, está nas palavras, às vezes ditas, muitas vezes impressa em papel e no coração.
Mas, nesse tempo de cultura de massa e imersão de valores, quem está interessado em pensar, em ler? Um garoto se aproximou, olhou, perguntou ao pai quem era aquele velhinho verde, e obteve sua resposta. Olhou de novo, e perguntou se o poeta participava de chats, qual era o site oficial e quando sairía o DVD. E Drummond pensou, "no meio do caminho havia um gigabite...".
O poeta tem a certeza de que o escultor não quis lhe prestar homenagem alguma. Ao contrário, queria fazer uma brincadeira (de muito mau gosto). Ora, será que o cidadão não conhecia as mil e uma histórias sobre a timidez do homenageado? A essa altura, Drummond, exposto ao sol e à chuva, se pergunta o que levou alguém a tamanha insensatez. Paz e tranquilidade, agora? Só nos dias de tempestade, isso, se os surfistas não resolverem pedir algum conselho. Demorô, brou ! Seu óculos já foi levado inúmeras vezes.
A tarde cai. O poeta lembra dos bons e velhos dias, em que as homenagens à sua memória se limitavam às escolas, à leitura, ou reimpressão de seus livros e artigos. Aos poucos, o assédio diminui. Os carros da Atlântica se tornam escassos, e depois de tanto burburinho a calma parece chegar. O som do mar recita versos, trechos de colóquios entre sereias e tritões. A sensação o leva para Itabira, para uma janela, de onde pode contemplar a vida besta que passa. Deixa escapar um leve sorriso ao lembrar de Teresa. Mas, quando tudo parecia tranquilo, eis que percebe a chegada de alguns garotos. Um deles está agitando uma lata... um spray.


quinta-feira, 12 de março de 2009

O CASO DA VÓ JUREMA






Era uma típica família classe média. Só não era mais típica porque a classe foi embora com a crise. Marcos, Marcia, o filho Julinho e a vó Jurema, mãe de Marcos, que morava com eles na espaçosa casa do Grajaú.
O chefe da casa não era chefe, Márcia ganhava mais e tomou conta do posto no último verão. Ele, professor de inglês, ela, advogada arrependida. Julinho fazia medicina, e vó Jurema, do alto de seus 90 anos, começava a regredir.
A tempestade começou depois que Marcos perdeu o emprego. Mais ou menos nesse período, vó Jurema passou a se trancar, sistematicamente, no banheiro de empregada. Ela se fechava e depois começava a gritar por socorro. No início, acontecia apenas de madrugada, mas, não tardou a evoluir. Na festa que Julinho fez para os amigos da escola ela ficou lá por cerca de três horas.
Marcos não conseguia dar aulas particulares, irritava-se com tudo, principalmente com alunos que não conseguiam pronunciar "thieves" direito. Márcia passou a chegar tarde em casa e ainda reclamava porque o jantar não estava pronto. Julinho só não reclamava porque o piercing que colocou na língua incomodava demais, e, além disso ele vivia nas raves. Aliás, nas últimas vezes em que parou para conversar com os pais percebeu que não tinha mais nada a dizer. Vó Jurema estava cada vez mais desligada e ia ao banheiro com frequência. Mas, sempre que abriam a porta para "salva-la"... ela estava rindo.
Marcos se preparou para o divórcio. Sabia que isso magoaria a esposa, com quem estava há quase dez anos. Sentou no sofá. Vó Jurema sentou na poltrona em frente. Ele disse que as coisas iam mudar muito a partir daquele dia, a avó riu e disse: "Heinn?". Márcia não demorou muito.
Antes que ele pudesse dar início ao capítulo final de seu relacionamento, Márcia pediu um minuto. Disse que o casamento estava acabado, ele disse, "eu sei!", e ela arrematou dizendo que há dois meses estava tendo relações com um cliente. Ele disse "Eu mato esse cretino!", ela disse, "É o Boca-suja, aquele traficante", ele retrucou, "é... não vale a pena brigar. Violência não leva a nada mesmo".
Marcia arrumou as malas com uma rapidez que deixou Marcos intrigado, o quanto ela fingira ao longo dos anos? Vó Jurema levantou. Ele se perguntou do que ela estava rindo, mas deixou pra lá. A porta da sala abriu e Marcos levou um susto ao ver um homem careca, com 90% do corpo coberto de tatuagens, entrando sem pedir licença. Resolveu encarar, ainda era o homem da casa, ou algo assim. "Ei, tá pensando que isso aqui é o quê? Tá pensando que vai entrando assim? Quem é você meu chapa?", perguntou, assumindo postura desafiadora. "Ih, pai, sou eu o Julinho, tá ligado?".
Pouco depois, Márcia passou pela sala carregando sua mala. Olhou para Julinho como se não o conhecesse mais, e disse que depois voltaria para pegar o resto das coisas. De repente, ouviram uma voz vinda do banheiro. O famoso pedido de socorro. Deram um sorriso, pelo momento em que o fato se repetia. E foram os três juntos libertar vó Jurema.
Abriram a porta do banheiro, mas não havia ninguém lá. Resolveram ficar juntos e procurar a fujona. Isso já faz mais de três anos. De vez em quando, ao verem televisão juntos, têm a impressão de ouvirem algo vindo do banheiro... algo como um sorriso matreiro.