sábado, 20 de agosto de 2011

E O JORNALISTA, O QUE É?




    O que é o jornalismo? O recente manual de ‘etiquetas’ lançado pelas organizações Globo parece ter sido feito para renomear a profissão, ratificando conceitos básicos e lançando luz sobre os novos tempos.
    A discussão em torno da profissão, que graças ao esforço de deputados e senadores, nem precisa mais de diploma, é mais do que importante nessa parte da revolução tecnológica, que mistura conceitos e faz tudo parecer fácil. Não é.
   A rigor, o jornalista é o profissional que tem como obrigação produzir informação imparcial sobre acontecimentos nas diversas esferas de nossa sociedade. Deve fazer textos claros, objetivos, que dê ao leitor dados suficientes para formar sua opinião. Esse dever se estende e se desdobra dependendo do veículo e da matéria produzida. É claro que esses textos devem ser produzidos dentro um rigor profissional, que passa pelo uso da norma culta de nossa língua, produção de leads, respeito pelo resguardo das fontes e acima de tudo se compromete com a ética.
   Esse modelo acima é, claro, uma idealização ou abstração. E por uma série de motivos. O primeiro é que a imparcialidade é uma utopia, pelo simples motivo de que o ser humano não é imparcial. No caso do jornalismo, ao cobrir um caso qualquer, cabe ao profissional ouvir diversas fontes antes de mais nada. Mas, no caso de um assalto, por exemplo, você nunca ouve o cara que foi preso, tem apenas a versão da polícia. E mesmo quando se ouve os dois lados, dependendo da pergunta que é feita, podemos notar a tal da parcialidade. Isenção é abstração. Além disso, o jornalista bem informado é antes de tudo, muito bem relacionado. Suas fontes incluem delegados, porteiros, garçons, etc. E ninguém é fonte de graça. Logo...
   Mas, é claro, existem ótimos jornalistas em todos os veículos, pessoas capazes de convencê-lo do que estão falando ou escrevendo. Essa credibilidade, no entanto, esbarra em juízos de valor sobre esta ou aquela organização. Sim, quem é que nunca ouviu falar da falta de isenção e do oportunismo da rede Globo? E da ‘evangelização’ do bispo Macedo na rede Record? E aí,  para muitos não se deve confiar na Globo, tudo que vem de lá é duvidoso, e o mesmo vale para os que não suportam a Record. Isso, só para citar duas emissoras, outros lembram que um noticiário do SBT não tem credibilidade alguma porque o dono do pedaço é o Silvio Santos... hahaiiii.
   Independente desses pontos, existe uma mudança social, provocada pela internetiolização das produções jornalísticas. Se o cineasta Glauber Rocha dizia em 1968 que para fazer cinema bastava ter uma idéia na cabeça e uma câmera nas mãos, para ser jornalista hoje basta ter um telefone celular com câmera.
   É cada vez maior a participação da população na produção de ‘notícias’, seja flagrantes de violência, desastres naturais, bueiros explodindo, metrôs superlotados ou celebridades pela noite afora. Essa popularização defendida por internautas e até alguns jornalistas, aliado ao fato da não necessidade de um registro profissional, faz com que todo mundo pense que é, de fato, um jornalista. Esquecem que sem um registro profissional, sem uma especialização, fingem ser o que já não existe. Um paradoxo filosófico. Ser um jornalista nesse aspecto, é ser algo que não é.
   E assim, a credibilidade da informação, do que se lê, do que se ouve, se dilui em um universo rápido, cheio de urgências e pouca, ou nenhuma ética. Seja nas páginas de revistas que surgem (do nada) com matérias investigativas sobre corrupção de A, B ou C e beneficiam este ou aquele grupo político; seja na ridicularização de fatos nas páginas de pseudo informativos como esses jornalecos que possuem títulos perfeitos: Meia-Hora e Expresso. Claro, são feitos não para quem quer se informar, mas quem quer o escândalo, a fofoca, que não é boa, mas é velha.
   Dessa forma perversa, o jornalismo caminha para um abismo. A dúvida que existe sobre ser o jornalista um formador de opinião ou um mero ‘fofoqueiro’ aumenta. Mesmo porque, dar a alguém a fama de formador de opinião reflete a cessão de poder, declara a preguiça de quem não quer pensar. É para aquele que se conforta em ouvir e ler a opinião de alguém que é pago para relatar fatos e, portanto, deve saber o que faz.
   A sociedade mudou, muda e continuará mudando, e com o jornalismo não será diferente. Entretanto, essa mudança precisa ser para algo melhor, um objeto identificado, para os profissionais da notícia e para o publico.
   Existe uma distância entre o produtor e seu público. Posso ver um filme sensacional no cinema e ter mil idéias de como eu faria o personagem principal, seja atuando de maneira diferente, seja escrevendo outro roteiro. MAS, se quero mesmo fazer algo a respeito devo estudar cinema, roteirização, interpretação, criação de personagem e outra infinidade de atividades inerentes à produção. O mesmo vale para o jornalismo. A crítica é a parte mais fácil da condição humana.
   Então, todo leitor espectador pode e deve ser um crítico sempre e para isso deve saber o que está criticando; deve questionar o que lê e vê e ouve; deve entender que não, ELE, LEITOR, NÃO É um jornalista. E o jornalista NÃO É um formador de opinião. É um profissional capaz de passar para o texto fatos que presencia e investiga, de uma maneira concisa, sem emitir juízo de valor. O jornalista NÃO É imparcial, mas deve procurar, ao máximo ouvir todas as fontes envolvidas e jamais esquecer a questão ética.