sábado, 20 de agosto de 2011

E O JORNALISTA, O QUE É?




    O que é o jornalismo? O recente manual de ‘etiquetas’ lançado pelas organizações Globo parece ter sido feito para renomear a profissão, ratificando conceitos básicos e lançando luz sobre os novos tempos.
    A discussão em torno da profissão, que graças ao esforço de deputados e senadores, nem precisa mais de diploma, é mais do que importante nessa parte da revolução tecnológica, que mistura conceitos e faz tudo parecer fácil. Não é.
   A rigor, o jornalista é o profissional que tem como obrigação produzir informação imparcial sobre acontecimentos nas diversas esferas de nossa sociedade. Deve fazer textos claros, objetivos, que dê ao leitor dados suficientes para formar sua opinião. Esse dever se estende e se desdobra dependendo do veículo e da matéria produzida. É claro que esses textos devem ser produzidos dentro um rigor profissional, que passa pelo uso da norma culta de nossa língua, produção de leads, respeito pelo resguardo das fontes e acima de tudo se compromete com a ética.
   Esse modelo acima é, claro, uma idealização ou abstração. E por uma série de motivos. O primeiro é que a imparcialidade é uma utopia, pelo simples motivo de que o ser humano não é imparcial. No caso do jornalismo, ao cobrir um caso qualquer, cabe ao profissional ouvir diversas fontes antes de mais nada. Mas, no caso de um assalto, por exemplo, você nunca ouve o cara que foi preso, tem apenas a versão da polícia. E mesmo quando se ouve os dois lados, dependendo da pergunta que é feita, podemos notar a tal da parcialidade. Isenção é abstração. Além disso, o jornalista bem informado é antes de tudo, muito bem relacionado. Suas fontes incluem delegados, porteiros, garçons, etc. E ninguém é fonte de graça. Logo...
   Mas, é claro, existem ótimos jornalistas em todos os veículos, pessoas capazes de convencê-lo do que estão falando ou escrevendo. Essa credibilidade, no entanto, esbarra em juízos de valor sobre esta ou aquela organização. Sim, quem é que nunca ouviu falar da falta de isenção e do oportunismo da rede Globo? E da ‘evangelização’ do bispo Macedo na rede Record? E aí,  para muitos não se deve confiar na Globo, tudo que vem de lá é duvidoso, e o mesmo vale para os que não suportam a Record. Isso, só para citar duas emissoras, outros lembram que um noticiário do SBT não tem credibilidade alguma porque o dono do pedaço é o Silvio Santos... hahaiiii.
   Independente desses pontos, existe uma mudança social, provocada pela internetiolização das produções jornalísticas. Se o cineasta Glauber Rocha dizia em 1968 que para fazer cinema bastava ter uma idéia na cabeça e uma câmera nas mãos, para ser jornalista hoje basta ter um telefone celular com câmera.
   É cada vez maior a participação da população na produção de ‘notícias’, seja flagrantes de violência, desastres naturais, bueiros explodindo, metrôs superlotados ou celebridades pela noite afora. Essa popularização defendida por internautas e até alguns jornalistas, aliado ao fato da não necessidade de um registro profissional, faz com que todo mundo pense que é, de fato, um jornalista. Esquecem que sem um registro profissional, sem uma especialização, fingem ser o que já não existe. Um paradoxo filosófico. Ser um jornalista nesse aspecto, é ser algo que não é.
   E assim, a credibilidade da informação, do que se lê, do que se ouve, se dilui em um universo rápido, cheio de urgências e pouca, ou nenhuma ética. Seja nas páginas de revistas que surgem (do nada) com matérias investigativas sobre corrupção de A, B ou C e beneficiam este ou aquele grupo político; seja na ridicularização de fatos nas páginas de pseudo informativos como esses jornalecos que possuem títulos perfeitos: Meia-Hora e Expresso. Claro, são feitos não para quem quer se informar, mas quem quer o escândalo, a fofoca, que não é boa, mas é velha.
   Dessa forma perversa, o jornalismo caminha para um abismo. A dúvida que existe sobre ser o jornalista um formador de opinião ou um mero ‘fofoqueiro’ aumenta. Mesmo porque, dar a alguém a fama de formador de opinião reflete a cessão de poder, declara a preguiça de quem não quer pensar. É para aquele que se conforta em ouvir e ler a opinião de alguém que é pago para relatar fatos e, portanto, deve saber o que faz.
   A sociedade mudou, muda e continuará mudando, e com o jornalismo não será diferente. Entretanto, essa mudança precisa ser para algo melhor, um objeto identificado, para os profissionais da notícia e para o publico.
   Existe uma distância entre o produtor e seu público. Posso ver um filme sensacional no cinema e ter mil idéias de como eu faria o personagem principal, seja atuando de maneira diferente, seja escrevendo outro roteiro. MAS, se quero mesmo fazer algo a respeito devo estudar cinema, roteirização, interpretação, criação de personagem e outra infinidade de atividades inerentes à produção. O mesmo vale para o jornalismo. A crítica é a parte mais fácil da condição humana.
   Então, todo leitor espectador pode e deve ser um crítico sempre e para isso deve saber o que está criticando; deve questionar o que lê e vê e ouve; deve entender que não, ELE, LEITOR, NÃO É um jornalista. E o jornalista NÃO É um formador de opinião. É um profissional capaz de passar para o texto fatos que presencia e investiga, de uma maneira concisa, sem emitir juízo de valor. O jornalista NÃO É imparcial, mas deve procurar, ao máximo ouvir todas as fontes envolvidas e jamais esquecer a questão ética.
     
  
         

quinta-feira, 28 de julho de 2011

27


Há coisas que a nossa vã filosofia de botequim não consegue mesmo explicar, é o caso do 27. Há quem acredite em coincidências, talvez fosse mesmo mais simples usar esse expediente para explicar por que Brian Jones, Jimi Hendrix, Janis Joplin, Jim Morrison, Kurt Cobain, Richey Street, Robert Johnson, Kristen Pfaff, Gary Thain, Ron "Pigpen" Mckernan, Pete Ham, Chris Bell, D Boon, Pete de Freitas, entre outros nomes da música mundial, foram embora aos 27 anos. Alguns, vítimas de acidentes, os mais famosos, no entanto, foram vítimas deles próprios.
Alguns pesquisadores dizem que tudo teria começado em 1938 com a morte do blueseiro Robert Johnson, que muitos consideram o avô do rock.
A aquisição mais recente desse macabro festival de rock que alguém está organizando em algum lugar lá fora é Amy Winhouse. Numa bolsa de apostas londrina, feita por vampiros ingleses legítimos, ninguém vai ganhar muito dinheiro, porque Amy vinha dando demonstrações de que não pretendia chegar aos 30. Logo, vendo as fotos dela há algum tempo na internet, as pífias e ridículas aparições recentes em palcos mundo afora, era fácil deduzir que tratava-se de uma questão de tempo. E, devido ao talento, só comparável ao seu mundo de tristezas e autoflagelação, o número 27 deve ter sido o mais procurado pelos apostadores.
Em geral, esses jovens talentos eram pessoas muito intensas, que pareciam não se adaptar de maneira alguma ao mundo como a maioria de nós o conhece: trabalho, casa, família, amigos, amores de estação. Em comum, também possuíam uma vocação natural para tornarem-se mitos, idolatrados por multidões. Ídolos capazes de enlouquecer estádios com milhares de fãs histéricos.
Na outra ponta da corda, a indústria do showbusiness sempre festejou esses artistas diferenciados, que valem seu peso em ouro, verdadeiras fábricas de dinheiro para seus proprietários. A rebeldia de Jim Morrison, o rei lagarto, preso no palco, onde destilava letras tão profundas quanto herméticas, recheadas de citações de ‘gurus’ que mergulhavam fundo no LSD, sempre foi um elemento catalisador. Não importava se seus fãs detestassem ler e não tivessem noção de quem era Aldous Huxley, que escreveu as Portas da Percepção, trabalho que deu nome à banda. Importava que consumissem o ídolo embriagado, drogado, que cantava sua infinita The end. Jim sabia que seu público queria mais, afinal as pessoas são mesmo muito estranhas.
Ninguém monta uma banda ou sai para buscar a fama pensando em ser mais um. Pensam em ser o UM, aquele que vai revolucionar o mundo, ser os novos Beatles. E os Beatles pensavam em ser o Elvis, que pensava em ser um pretzel ou um donuts. Essa busca é o que há de mais comum na trilha dos aspirantes ao estrelato, a imensa maioria fica no caminho, escolhe outra profissão.
As exceções que vão á frente, no entanto, não são raras, pois a indústria precisa ser alimentada constantemente. Alguns artistas duram anos, outros décadas, poucos vão além e há os que vão para o além literalmente. É claro que há muitos exemplos de longevidade no rock, caso dos Rolling Stones, U2 e Bob Dylan, mas, esses caras, por mais carismáticos que sejam, são velhos hoje em dia. A imagem de rebeldia, que molda sonhos e desperta curiosidade, assombro, ficou lá atrás, não cabe numa vida calma com a família.
O pessoal da Banda 27 jamais terá rugas ou artrose, nunca pensarão em algo tão estapafúrdio quanto aposentadoria. O tempo parou para eles e se transformou imediatamente em algo infinito. O preço disso é alto e eles pagam sem se dar conta.
A vida cheia de conflitos, os dramas familiares, os amores catastróficos, são apontados como possíveis causas para o uso exagerado de drogas e o conseqüente desfecho fatal. Mas, quem não tem esses problemas? A diferença é que, além disso, esses artistas são sensíveis demais. Transformam a dor em música e contagiam milhões. E quanto mais verdadeira for a história, mais intensa a canção, maior o sucesso, melhores as festas etc. No fim, a dor se torna algo lindo de se ouvir, como Loosing Game, que é uma música em que o amor é algo destinado ao fracasso absoluto.
Todos eles eram ricos, famosos, endeusados pela mídia e pelo público, e todos estavam, cada um a seu jeito, pedindo socorro, como uma criança perdida em meio à multidão. Mas, nenhum deles foi capaz de romper a corrente, de optar por uma vida diferente ou sem as drogas. Chegaram a um ponto onde não há retorno, são a prova viva (ou morta?) daquele ditado que alerta “Cuidado com o que você deseja, porque pode conseguir”.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

O ORKUT ACABOU... VIVA O FACEBOOK!!!





O ser humano precisa se comunicar, é certo, é essencial. Afinal, foi por conta de nossos contatos que saímos das cavernas e caminhamos pelas florestas mundo afora. A comunicação traz a sensação de pertencer a um conjunto, de fazer parte de algo maior, de algo que pode ser compartilhado por todas as tribos. Esse lance de tribo a gente nunca esqueceu, deve ser memória genética. Portanto, comunicar bem é aumentar as possibilidades da evolução humana. E de tanto comunicar chegamos ao facebook e ao twitter.
Se alguém tinha alguma dúvida do poder da revolução tecnológica em que estamos metidos, agora não tem mais. O mundo ficou pequeno, pequeno mesmo, cabe na tela de um computador, e a China, que continua do outro lado do planeta, está a um toque de distância. Quantas maravilhas há em um teclado?
Mas, tudo tem um preço, e com a tecnologia não seria diferente. Se é verdade que podemos encontrar internet em qualquer beco da vida e que através das lan houses só fica fora do mundo virtual quem quiser (mas esses logo se tornam vítimas de bullying e acabam se adaptando), também não é menos verdadeira a certeza de que nossos valores estão mudando tanto quanto nossa forma de ver o mundo.
Hoje em dia só se fala em redes sociais, muita gente quer fazer parte, de alguma forma, desse mundo que rende bilhões aos seus criadores. E não é por acaso que no twitter você não tem amigos, você tem seguidores. Sim, isso mesmo, seguidores. A razão é que tem algo quase religioso nessa criação internética.
Pra começar, pelo twitter você se comunica de maneira rápida, utilizando no máximo 140 caracteres em cada mensagem. Isso faz com que você seja objetivo, preciso, que tenha foco no que quer transmitir aos seus amigos, seus seguidores fiéis.
Mas, se você entrar no twitter só para conhecer, sem pretensão de seguir ou ser seguido, vai perceber que trata-se de um paraíso de trivialidades. Ali, você pode criar fofocas, estimular intrigas, espalhar boatos e, claro, aderir a uma grande causa, como por exemplo a do ator e humorista Eduardo Sterblitch, que precisava sensibilizar o ator Jim Carrey a lhe conhecer e lhe dar um papel em um filme em Hollywood. Essa iniciativa mobilizou milhões de pessoas no twitter. Jim Carrey, no entanto, deu apenas 10 minutos de seu tempo ao nosso Fred Mercury Prateado e postou no twitter uma foto com um brinquedo que recebeu de Eduardo. O brasileiro não vai fazer filme algum, claro, mas o programa Pânico conseguiu o que queria desde o início, se promover. É pra isso que serve o twitter, promoção, a sua e a de qualquer um.
Outra rede social interessante é o facebook. Nele, as pessoas postam fotos e se conectam com outras ao redor do mundo para trocar mensagens, mas há diferenças em relação ao twitter. Ao abrir o seu facebook você vê no canto direito da tela fotos de pessoas que são amigas dos amigos dos seus amigos e o face pergunta (sim, o facebook lhe conhece, chama pelo nome e tudo): fulana de tal é sua amiga? Se não for amiga, mas for bonita, sexy, pode até vir a ser, por que não, certo? E assim a rede cresce.
Na parte central da tela você pode ler as novidades dos seus amigos. Já que você pode postar fotos, musicas, links... tem de tudo um pouco: alguém apaixonado coloca uma musica para todos entenderem que tem a ver com o que esse ser esta sentindo, mesmo que isso não lhe diga respeito. Você nem sabia que ele(a) estava namorando, nem queria saber, na verdade; outros preferem colocar poesias, textos emblemáticos; outros preferem mostrar suas indignações sobre um pacote econômico do governo ou sobre o novo vestido da Patricia Poeta; e outros falam sobre coisas sérias, como: “ah, hoje vou tomar banho mais cedo”, “meu cachorrinho tá com frio!”, “estou feliz!”, “vou comer angu com caviar pra variar!”... e outras pérolas. Fica parecendo que tudo que você pensa deve ser compartilhado e entendido e curtido pelos outros.
Mas, o facebook é humano (é feito por humanos, eu acho) e também pode provoca discórdia. Ao lado de cada post tem uma opção para que seus amigos possam ‘curtir’ o que você disponibilizou. Se ninguém ‘curtir’, o facer (quem usa o face) fica triste. Mas, pior, se alguém não gosta do que você colocou pode comentar com ironia e começar uma enxurrada de posts a favor e contra a mensagem inicial. Em pouco tempo você está brigando até com quem não conhece por uma razão que você nem lembra direito qual é. E tem milhares de usuários que sugerem a criação de um botão com a opção “não curti”, aí vai virar guerra.
Em breve, graças aos incentivos governamentais, outros milhões de brasileiros poderão usufruir desse mundo virtual, que se tornou uma ditadura. Ou você faz parte ou é o neo excluído, não há meio termo. A impressão é a de que o futuro chegou, tá todo mundo nele, junto e misturado, mas ninguém sabe ao certo para que serve.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

UM MUNDO SEM HERÓIS




O ser humano é movido a quê? Existem momentos em que os milênios não parecem fazer diferença e a palavra evolução fica perdida em meio a tantas emoções bárbaras. No início da madrugada de 2 de maio de 2011, horário de Brasília, o presidente Barack Obama veio a público prestar contas da sua campanha ao povo norte americano. Veio para dizer que uma de suas metas estava cumprida, Osama Bin Laden estava morto.
A reação dos americanos foi, de certa forma, esperada, afinal, tudo se torna espetáculo naquele país, tudo parece falso e exagerado demais por lá, terra dos sonhos e de grandes pesadelos.
Pessoas de todas as idades saíram pelas ruas cantando, pulando, gritando e glorificando Obama e os soldados que conseguiram o feito épico. Era o fim de um filme sangrento que começou décadas atrás quando um jovem árabe que combatia soviéticos no Afeganistão recebeu treinamento e armas do governo americano para levar adiante sua luta. Após esse episódio o árabe, de família rica e aliada incondicional dos EUA, olhou o mundo em volta, a religião muçulmana, e decidiu mudar o que julgava errado. Inventou uma guerra santa, deturpou as palavras da Tora, recrutou aliados que gostaram dessas idéias radicais e fundou um grupo que ficaria conhecido mundialmente como A Base. A partir daí saiu explodindo coisas e pessoas (principalmente ocidentais) indiscriminadamente para fazer valer seus pontos de vista.
Bin Laden mudou não apenas a vida de alguns muçulmanos, mas de todo os EUA, Afeganistão, Iraque, Paquistão e adjacências. Graças a ele mundo descobriu que aviões comerciais podem ser usados como mísseis e atacar os americanos não é coisa tão difícil assim, basta dedicação e competência.
A partir de 2001, George Bush se tornou um dos presidentes mais aclamados de todos os tempos. Restringiu direitos civis, invadiu o Afeganistão, o Iraque, onde prendeu e patrocinou a execução de Saddan Hussein, fez do mundo um quintal a ser ‘protegido’ do Eixo do Mal. A velha história do lobo protegendo o galinheiro.
O certo é que nada mexeu mais com os EUA, e com o imaginário popular, nos últimos tempos do que Bin Laden. Virou paródia, mito, e de vez em quando aparecia em vídeos feitos em cavernas para falar de sua guerra. Caetano Veloso vendo um desses videos disse que Obama era bonito, e isso denotava a popularidade do homem.
A Base não foi à frente, mas o grupo de Bin Laden se pulverizou pela Europa e Ásia, como uma franquia, tipo Mcdonalds. Se alguém explodia uma carrocinha de pipoca ou um banco, alegava fazer parte da Base, de Bin Laden.
Graças a Bin, Obama provavelmente conseguirá a reeleição e a política norte americana, apesar da crise financeira, do petróleo, do avanço da China, continuará dando as ordens.
Em resumo, os EUA usaram o árabe para justificar a verdadeira política de terror que passaram a implementar a partir de 2001. Dizia-se, diz-se, que o objetivo era combater o terror. Mas, que terror? Se Bin Laden e esses orientais que desprezam a vida são perigosos com seus ataques aqui e ali, o que dizer dos ataques oficiais realizados pelos poderes legalmente instituídos?
O povo levou Hitler ao poder, levou George Bush, pai e filho, ao poder, aceitou Saddan Hussein, exaltou Mao Tse Tung, Julio Cesar, Herodes e milhares de outros. Cada uma dessas pessoas foi responsável pelo massacre de milhares. Todos eles praticaram o verdadeiro terror, invadiram, mataram, estupraram e desprezaram a vida humana em todos os sentidos. E, claro, todos tinham o respaldo de seus conterrâneos.
Assim, ver americanos nas ruas comemorando um assassinato tão sujo quanto os cometidos pelos terroristas islâmicos (as agências de espionagem já admitiram publicamente a tortura violenta de prisioneiros e também que Bin Laden nem armado estava quando foi encontrado e assassinado a sangue frio), como se estivessem no Natal ou no ano novo, rindo, berrando como alucinados é algo que preocupa mais do que ver fanáticos religiosos enrolados em panos velhos.

sábado, 9 de abril de 2011

GENTILEZA GERA GENTILEZA


A semana passada foi marcada por um episódio que já faz parte da história não só do Rio, mas do país inteiro. É claro que todos os detalhes do que aconteceu na escola em Realengo já foram esmiuçados pela mídia, mas uma constante nesses episódios trágicos da vida continua chamando a atenção: a curiosidade mórbida do ser humano.
Muitos reclamam do ‘espetáculo’ que os jornais trazem em suas capas. Seja o Meia-Hora ou O Globo, a idéia é a mesma: impactar, chocar, vender. Em cada esquina da cidade, no dia posterior ao fato, diversas pessoas se amontoavam em frente às bancas. O Dia, que aparentemente voltou a ser um dos mais apelativos jornais da cidade, trazia a capa em fundo preto, uma manchete grotesca (que não vou citar aqui) e fotos de terror absoluto, incluindo uma do atirador inerte na escada da escola. Resultado: pessoas chorando em frente à banca, raiva, ódio, trabalhadores que passaram o dia falando da mesma coisa e revendo as imagens caóticas. Deve ter sido um dia de muita dor de cabeça. E, claro, O DIA agradece aos milhares que compraram o exemplar. Foi o mesmo com todos os jornais. A disputa era pela manchete sensacionalista, valia de tudo, desde depoimentos de crianças apavoradas ao histórico feito às pressas da vida e ‘obra’ do ex-aluno.
Informações desencontradas pipocavam nos sites, fosse sobre o número de vítimas, as motivações (a mídia procurava desesperadamente uma razão para o caso); o teor de uma suposta carta etc etc. Imagens ao vivo pelas emissoras de TV repetiam insistentemente o número de vítimas fatais, e a cada entrada era um número diferente. Mães e pais em pânico foram mostrados à exaustão, os passos do ex-aluno desde o momento em que entrou na escola, se identificou, foi à biblioteca e entrou nas salas de aula eram repetidos em todos os intervalos.
Houve espaço também para os heróis, como o sargento super calmo que deu várias entrevistas e foi homenageado em público pelo governador Sergio Cabral. E foi assim o dia inteiro, a noite inteira e entrou pela madrugada. Resultado, audiência lá em cima.
Notaram que, ao contrário de qualquer outra matéria, as crianças tiveram seus rostos estampados em fotos e foram filmados indiscriminadamente? Foram entrevistados por diversos repórteres, desde o momento em que aconteceu o crime até a noite. Uma menina aparentando calma alarmante falava de sua fuga, da morte das amigas e já planejava o futuro... ?????? e o pior, essa mesma menina estaria no dia seguinte de manhã no programa daquela pessoa chamada Ana Maria Braga, que assim que viu a menina foi logo elogiando o cabelo comprido e penteado (feito nos bastidores, claro). E lá foi a menina ser massacrada por perguntas óbvias e tristes e pela risada fantasmagórica dessa senhora viciada em botox. PERGUNTA: CADÊ o respeito ao Estatuto da Criança e do Adolescente? Como é possível explorar dessa forma crianças que durante anos, talvez pela vida inteira, serão vítimas do que aconteceu aos seus amigos de sala?
Sobre o tal ex-aluno, a mídia o tornou um astro. Das crianças mortas, pouco se sabe, mas dele só falta um programa no estilo Por Toda a Minha Vida. Era um menino quieto, estudioso, segundo suas professoras; vítima de bullying (palavra nova para velhos hábitos); nunca teve namorada; era adotado pela tia pois a mãe era esquizofrênica e tentou suicídio; achou sensacional o 11 de setembro, segundo seu irmão (que tem voz de mulher e mora do DF); queria jogar um avião no Cristo Redentor; passava horas e horas na internet; era ligado profundamente em religião e apesar de citar a Bíblia se vestia, segundo disseram, como um fundamentalista islâmico; deixou uma carta pra lá de estranha... pelo menos pra gente, era um louco. Resultado: A GLOBO e todas as outras emissoras não conseguiram o que queriam, uma RAZÃO para o crime. Simplesmente não há ‘razão’ quando se fala em esquizofrenia. Que chato, plim-plim...

Agora, talvez seja a hora de pensarmos, não nas manchetes e nas TVs, mas em nós. A mídia só faz o que faz porque tem audiência. Enquanto alimentarmos esses vampiros que existem dentro de nós e que adoram ver tragédias, sangue e guerra e escombros e intriga e violência, nada muda. Na verdade, nada muda se você não mudar. Talvez, se o mundo fosse um lugar melhor as coisas fossem diferentes, pensam... mas gente, nós fazemos o mundo!
O título da crônica tem a ver com a percepção de um homem que também era visto como um louco por muita gente, talvez fosse, mas sua ‘loucura’ era baseada no amor, na tolerância, na amizade. ‘Gentileza gera Gentileza’ não será manchete, não venderá milhões de exemplares, não vai atrair patrocinadores. É apenas uma idéia, uma sugestão de pauta para nossas vidas.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

QUANTAS VIDAS HÁ EM UM LOBO?


A vida passa rápido demais... e você tem poucas opções, na verdade tem apenas duas: ou a leva para onde achar melhor ou deixa que ela te leve para um lugar qualquer e depois não adianta reclamar.
Essa reflexão em cima de velhos clichês chega após a leitura da biografia do Lobão, “50 anos a mil”. João Luiz teve uma vida bem agitada até aqui e justifica plenamente o título do livro, que tem 600 páginas.
Particularmente, Lobão sempre me pareceu um bom vivant, um carinha que sempre teve tudo e por isso mesmo fazia a pose de insatisfeito, de coitado, de vítima, para chamar a atenção da mídia, estar em evidência. No caso, minha preconceituosidade se mostrou bem distante da realidade.
Woenderbag Filho é um ser altamente complexo em seus rompantes, por vezes maníaco-depressivos. Se na infância e adolescência suas aventuras são repletas de energia e expectativas, se tem seus medos, suas vitórias e suas dúvidas, como qualquer um, aos poucos passa a viver um mundo de estranhezas a la Lovercraft, em que se sente vazio, tendo de conviver com uma família que lembra muito os Adamns. Os conflitos com o pai, que degringolam para a violência musical explícita, quando quebra um violão na cabeça de seu progenitor; a ‘coisa’ mal explicada com a mãe, que era mais um personagem do que uma pessoa, de tanto que buscou uma vida que nunca conseguiu encontrar, tal e qual um pinocchio em busca de se tornar real. E tudo termina muito mal para essa família.
A mãe comete suicídio e joga a culpa no Lobo, fazendo inclusive um discurso de despedida para seus pequenos alunos em plena sala de aula...deve ter sido bem tétrica essa cena. Já o pai tem uma despedida sincera na cama de um hospital, um episódio triste e cheio de significados e redenções para Lobão.
As páginas dessa autobiografia são aplicadas, entorpecem e dão um clima junkie ao produto final. Há drogas, carreiras espalhadas entre os parágrafos, numa quantidade que as vezes escapa ao controle. Não é a toa que as primeiras páginas se passam numa capela, onde Lobão e Cazuza se debruçam sobre o caixão de Julio Barroso e na alta madrugada chafurdam a última carreira em homenagem ao amigo suicida.
Pensava em lobão como um artista de poucos sucessos e nos anos 80 não era um dos preferidos. Ele sempre falou mais do que cantou. E no livro destila seu incômodo em relação ao mundo que habita, talvez por isso tenha lido tantas vezes Nisztchie, e ninguém faz isso impunemente. Suas tentativas de suicídio que o digam.
A obsessão por Herbert Vianna é patética, pois apesar das ‘coincidências’ os trabalhos são e sempre foram muito diferentes. Mas para João Luiz Lobo a coisa era séria demais... só para ele.
O envolvimento com o samba e com a marginalidade, o tempo na cadeia e a briga com as gravadoras dão o tom pesado da empreitada literária. E as notas que passam a constar a partir da pág 290 são exageradas, mais do mesmo puro. A explicação é de que são necessárias para mostrar que Lobão não tava viajando na sua prosa. Ora, ou você confia no autor ou não confia. Quanto tempo desperdicei quando o mais queria era provar pra todo mundo que eu não precisava provar nada pra ninguém, como diria seu Renato.
Sobra pouco espaço para o amor com Regina e menos ainda são as linhas dedicadas a filha. Isso não é gratuito, é emblemático. Lobão continua querendo espaço, o ostracismo talvez o levasse a Queda na Noite Escura definitiva, e talvez não tivesse tanta sorte quanto nas ultimas tentativas de desaparecer. Ele se diz uma pessoa melhor... melhor pra quem? Por que dizer isso? Parece querer convencer a si e não aos leitores. Quem é feliz de verdade não alardeia aos quatro ventos, deixa que perceçam, e se não perceberem que se explodam.
Leandro Mazzini, um amigo repórter em Brasília, disse que abriu as primeiras páginas e assim que percebeu que não havia nada de literatura no livro desistiu imediatamente. Pena, pois o que não falta é drama, aventura e tragédias... todos os ingredientes necessários a uma obra literária. Se não há forma, há idéias, conteúdo.
Lobão tem seu ponto de vista da sociedade em que vive, é contraditório, concessivo, atrapalhado, verborrágico, patético e exagerado, mas por isso mesmo vale a pena ser lido.

domingo, 9 de janeiro de 2011

JÁ FEZ SUA BIOGRAFIA HOJE?



Tudo bem, vivemos mesmo um período de muita velocidade, principalmente se pautarmos nossa primata existência pesudo-espiritual nos bits da tecnologia. Graças a essa extensão de nossos cérebros, que estão sendo transportados para o interior de pendrives, nossos valores ganham outras percepções. E o mundo jamais será o mesmo.
Uma constatação bem simples do que o excesso de informação disponível pode produzir é notada também fora das máquinas, trata-se da proliferação de biografias à venda. Até algum tempo, esse tipo de leitura era prazerosa, esperada por muitos leitores que gostam de saber detalhes da vida de personagens importantes para o cenário mundial, expoentes da grande aventura humana, pessoas que através de suas palavras e atitudes tornaram sua vida um exemplo, para o bem ou para o mal.
A biografia do quase profeta brasileiro Gentileza, por exemplo, é algo digno de nota, bem como a de John Lennon ou de Ghandi. Hitler, a despeito de nunca ter sido um ser humano, merece ser lido, afinal, temos em sua vida um belo exemplo de tudo que não devemos despertar em nosso interior. E o que dizer de Michael Jackson, que através de gritinhos, sussurros e passos para trás foi construindo sua trajetória? Na infância, só foi chamado de bonito quando levava surras do pai ao desafinar uma nota. O velho Jackson berrava: “Bonito, Né????? TOMA!!!” e lhe descia o sarrafo. Ah, Michael sim, merece biografia, afinal, um ser que nasce negro vira bege e morava em um lugar que todos pensavam que só existisse no livro Alice no País das Maravilhas, é digno de nota.
Queremos saber do Silvio Santos, o Sr. Gargalhada; do Roberto Marinho e seu império fantástico; do Pablo Picasso, que passava o pincel em telas e mulheres com a mesma facilidade; do Leornardo Da Vinci, que se vivesse hoje seria perseguido por garotos paulistas e teria uma lâmpada fluorescente partida em sua cabeça; queremos ler a biografia de Freud e Jung e do Bezerra da Silva.
Atualmente estou lendo a biografia do Lobão, que é simples, objetiva e cheia de situações bizarras desde a infância. Tão bizarras quanto a de cada um de nós. Mas vale, porque o Lobão sempre foi um falastrão impulsivo e com senso aguçado de marketing. Assim, nas trocentas páginas de “50 anos a mi’, temos o retrato de um rebelde sem causa, rico, excêntrico e que não faz questão de agradar ninguém. Mas, que, acima de tudo, tem atitude.
Existem milhares de pessoas que merecem ter a vida revelada nas páginas de um livro, mas o que dizer de Justin Bieber? O garoto de 16 anos... dezesseis!!!
Quem gosta, diz que ele merece, afinal, já tem mais história do que a maioria dos mortais pobres, simplórios e sem criatividade que povoam o planeta, e os que odeiam dizem que é apenas mais uma jogada de marketing para aumentar o saldo da conta bancária do moleque. Bem, independente do amor e do ódio, é óbvio que o garoto não tem bagagem alguma para render uma biografia, a não ser que nela se revele como é possível um garoto chato, com penteado igual ao do Roberto Leal (um português meio panelero que fez muito sucesso no Brasil é hoje é amigo do Amaury Junior e de vez em quando surge para falar de culinária), tenha conseguido tanto sucesso. Ele não canta bem, não dança bem etc etc...
E nessa lista de biografias improváveis temos Amy Winhouse, que apesar das 350 tentativas de suicídio ainda está na casa dos vinte e também o ... RESTART! Pára tudo!!!! RESTART? Aqueles garotos de 18 anos que aparecem em diversos programas para cantar sempre a mesma música, cujos integrantes têm nomes como Pelanza, Peludo, Pelado..., que o vocalista não consegue aparecer em uma única foto sem fazer careta e sinais, que possuem apenas um cd, que inventaram uma tal ‘família Restart’ para a qual fazem coraçõezinhos durante as apresentações, que obrigou uma garota na internet a criar uma frase tão cheia de sentido quanto “Isso é uma puta falta de sacanagem” ? sim, eles mesmo.
Pensa que acabou? Em breve Maisa, a garota-pentelha, promete revelações bombásticas sobre sua vida com Silvio Santos, e Tiririca diz que os leitores podem esperar surpresas em sua autobiografia. Nesse caso, os leitores podem esperar mesmo... se tudo der certo para o palhaço-deputado, ou deputado-palhaço, as primeiras 10 folhas manuscritas pelo próprio Tiririca estarão prontas em 25 anos.
Bem, amigos, devemos estar atentos aos sinais que os tempos trazem. As mensagens de que alguma coisa está errada estão por todo lado, e quando crianças começam a ganhar biografias é hora de abrir a Bíblia, o Alcorão, o Minutos de Sabedoria... e rezar.