domingo, 28 de novembro de 2010

ONDE FOI PARAR A GUERRA?



O Rio de Janeiro viveu uma semana inesquecível, a última do mês de novembro de 2010. Tivemos fogo, explosões, medo, pânico e muita rede globo.

De repente, bandidos passaram a queimar carros em vários pontos do Rio. A primeira declaração de um delegado foi: “Temos a certeza de que não se trata de algo organizado...”. Bem, claro que ele estava mentindo.

Com o passar dos dias o número de carros, caminhões, ônibus queimados a qualquer hora do dia cresceram, saíram da casa da unidade para a da dezena. Chegou num ponto em que a cidade começou a sentir medo. Boatos começaram a pipocar, e duas caixas suspeitas, deixadas em Ipanema, mobilizaram o esquadrão anti bomba e dezenas de desocupados que passavam pelo local. Não havia perigo, era uma campanha publicitária. Por isso, alguns dizem que a publicidade é o mal do mundo.

Finalmente, as forças policiais, incluindo polícia militar, civil e a Marinha resolveram colocar em prática um plano fantástico, uma ação conjunta. Uma ação um tanto óbvia, não? Resultado, a população, que já vivia o clima de pânico generalizado por não agüentar mais ouvir a respeito dos ataques marginais que queimavam carros a torto e a direita, passou a ficar um pouco pior, pois a força conjunta dava entrevistas e falava que invadiriam a famosa Vila Cruzeiro.

Bem, a guerra psicológica, alimentada pela cobertura da rede globo (principalmente), deu certo. Empresas liberaram funcionários mais cedo, escolas não abriram, trens mudaram itinerários etc. A audiência foi lá em cima.

Nada na Globo é mínimo. Quando eles decidem explorar um assunto, ninguém segura. Não teve para Datena, Wagner Montes ou qualquer concorrente. A maior parte dos televisores estava ligada na tela do plim plim.

E assim, no dia 26 de novembro, todo mundo pôde acompanhar os repórteres e apresentadores de telejornais globais tendo suas horas e mais horas e mais horas de fama.

o clima:

A polícia, contando com blindados da Marinha, invadiu a Vila Cruzeiro. O senhor Pimentel, que além de inspirar o comandante Nascimento do Tropa de Elite 2, faz um bico como explicador no RJ TV, chamava a atenção para o que a polícia encontraria... muita resistência. Afinal, eram cerca de 700 bandidos fortemente armados, com táticas de guerrilha, que, segundo sua análise crítica, não se entregariam.

Lá embaixo, o hospital Getulio Vargas fora preparado para receber os feridos em combate; diversas ambulâncias haviam sido preparadas para o pior; helicópteros sobrevoavam a região... a tensão crescia. Toda a programação da Globo foi cancelada para transmitir esse confronto épico.

Mas... depois de horas de um falatório retórico, nada aconteceu. Até que... uma imagem capturada pelo Globocop, claro, flagrou algo. Eram... os bandidos (parecia um bando de adolescentes correndo atrás de doce em dia de Cosme e Damião), correndo desesperados por uma estrada. Eram centenas. Os bandidos temidos eram toscos, monstros construídos de maconha e cocaína, que seguiam as ordens de outros vermes sociais, caso do tal Elias Maluco. Maluco era quem seguia essa ‘coisa’. Os traficantes realmente estavam armados, mas mal conseguiam segurar as armas enquanto seguiam rumo ao complexo do Alemão.

Bem, a Globo conseguiu um furo de reportagem. Pois essa fuga foi a única coisa digna de registro. Tanto que a imagem era reprisada de 10 em 10 minutos. Quem não estava atento ao áudio achou que milhares de bandidos estavam em fuga. Ah, a Globo foi proibida pelo BOPE de mandar esse helicóptero de novo para mostrar o que a polícia não viu. E as imagens já estão à venda nos camelôs de sua confiança, com o nome de Tropa de elite 3... deve ter os comentários do Pimentel.

E assim, no dia seguinte, foi a vez de mostrar a expectativa da guerra que não houve. Mas, segundo Pimentel, o homem sábio, dessa vez os meliantes não se entregariam sem luta. Pois não havia como fugir pelo lugar de onde vieram, uma vez que as forças policiais dominaram a região da Vila Cruzeiro com extrema facilidade.

E lá foi a rede globo cancelar toda a programação de domingo, pois no sábado houve apenas mais retórica e infográficos. Desde as 8h repórteres se revezaram para transmitir o incrível combate, agora seria no complexo do alemão. Olha, pior que Pimentel só o Alex Escobar. NÃO HOUVE COMBATE!!!

A polícia invadiu, jogou cartas, brincou de pique-esconde e tomou conta do local. Os bandidos simplesmente sumiram. Alguns foram presos, outros serão ao longo da semana, meses etc. Pra quem esperava e anunciava uma guerra, foi deprimente reportar que morreram apenas dois traficantes e mesmo assim, lá em Inhaúma, longe do palco preparado.

Bem, o lado bom foi exatamente não ter acontecido um banho de sangue, foi ver todas as forças policiais atuando em conjunto, a população aplaudindo soldados do exercito nas ruas (e 1964???). Foi ver as mulheres e advogados dessa corja de bandidos serem presos e ter os bens tornados indisponíveis. Bom foi ver os moradores dessa região sentindo-se livres, em paz, de certa forma.

Lá no morro, havia maconha, armas, tudo em tonelada. Mas bandidos marrentos... nenhum. Isso mostrou a cara covarde dos traficantes, que são cruéis apenas com civis, mas que nunca tiveram a menor condição de enfrentar o Estado.

O que não muda:

Quem leva armamento pesado para os morros mora longe dali, é rico, alguns têm patentes;

Quem alimenta o tráfico são os usuários, sem eles, não há traficantes;

O Pimentel vai continuar na Rede Globo