segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Houve uma vez um Rock in Rio

Parece que foi ontem.. Essa frase é tão batida. Parece que vai ser hoje, sim, é isso. A expectativa é tão importante, e em 1985, rádios, tvs, jornais, todos e tudo chamam a atenção para o maior evento musical que o país já viu, o Rock’n Rio. Para ele foi construída a cidade do rock, afastada do centro, nos recônditos da Barra da Tijuca. Hoje a noite quem abre o evento é o Ney Matogrosso... ué, mas ele não é rockeiro...
E fez-se o som naquele 11 de janeiro.
Pela primeira vez, os grandes pesos pesados da música, no auge da carreira (a maioria), aportavam em nosso planeta: Queen, Iron Maiden, Rod Stewart, YES, Scorpions, etc. Era a realização de um sonho para muita gente. Foram 10 dias inesquecíveis, e desde então a música não parou mais de tocar.
Nem tudo deu certo, claro. O som das bandas internacionais era muuuuito melhor do que o destinado aos nossos herois da resistencia. Erasmo Carlos, que era chamado de Tremendão por causa da jovem guarda e não por causa de Parkinson, quase foi imolado no palco. Apedrejado ele foi. As bandas nacionais, como o Kid Abelha, além de Eduardo Dusek e outros, foram vaiados estrondosamente no primeiro dia em que se apresentaram. Lulu Santos viu e temeu o caminhar da humanidade e pensou em voltar pra casa. Felizmente, essa situação se reverteu durante os dez dias do evento. No fim, os Paralamas do Sucesso, com um show simples e despojado de ideais, apresentou um carinha que sabia falar muito bem, um tal herbert Vianna, que pagou geral para a galerinha que preferia ouvir os gringos. Virou ídolo imediato, e teria ido muito mais longe como porta voz de sua geração, senão tivesse trazido ao Rio aquele garoto esquisito conhecido como Renato Russo, mas isso é outra historia. Até por que a Legiao Urbana não foi convidada para a festa.
O Rock’n Rio passou longe de ser um mega festival de rock, contava com uma infinidade de timbres e personalidades tão antagônicas quanto Billy Idol e (de novo) Erasmo Carlos. Teve Gilberto Gil, Nina Hagen, Pepeu Gomes e James Taylor, além de All Jarreou. Mas isso não tirou o brilho da festa, ao contrário. A perfeição nasce da diversidade.
Em 1991, o palco foi o Maracanã. Teve Prince, Guns’n Roses, New Kids on the Block e ... Serguei. Não deixou saudades, e a cena mais impactante do evento foi uma chuva de pedra, garrafas etc em Lobão, que ainda continuou a cantar. Ele sempre teve tendencias suicidas. E a última vez no Rio foi em 2001. Teve Oasis, N’ Sinc e Britney Spears. Depois disso, o Rock’Rio foi passear em Lisboa, em 2004 e 2006 e 2008 (também em Madri) e 2010. Ou seja, o Rock’n Rio virou portugues. E o mais incrível, o cantor Roberto Leal, de quem o Justin Beeber pegou o visual, não esteve presente em nenhuma edição.
Agora, passando da infancia à fase adulta, o Rock está de volta ao seu local de origem.
Será um mega festival e com certeza vai levar milhares de pessoas à neo rock city. Também é certo que haverá grandes nomes, especula-se Shakira, Lady GA GA e ‘coisas’ do gênero. Mas, o encanto não é o mesmo.
Hoje, o Brasil faz parte do roteiro mundial dos grandes astros da música. Os norte americanos já sabem, mais ou menos, reconhecer o nosso país no mapa, pelo menos quando não o confundem com a Africa. Vamos sediar uma copa do Mundo e as Olimpiadas. Enfim, o Brasil saiu do anonimato. Por isso, o Rock’n Rio, que será o primeiro para muita gente, não terá aquela coisa da magia que envolvia não apenas os shows, mas tudo ao redor.
Cada detalhe daqueles dias trazia a novidade embutida, a curiosidade, a dúvida. Não era fácil chegar à cidade do Rock, e voltar então... rsrsrs. Era a primeira vez para nós e para eles, em todos os sentidos, e isso a gente não esquece. Até o nome do evento tinha a ver com o momento, com a explosão mundial do rock, que era uma verdadeira febre nacional. Caetano e Gil se diziam rockeiros de ocasião. Gil, inclusive gravou o punk da periferia, que soava falso na pseudoverboneural linguagem do baiano. Mas era normal, todos queriam tirar casquinha do rock, daí o nome do evento. Se fosse realizado alguns anos depois, seria chamado Lambada’n Rio, nos anos 90 seria Sertanejo’n Rio e depois É O Tcham’n Rio. Por isso, devemos agradecer por aquele momento em 1985.