quinta-feira, 28 de julho de 2011

27


Há coisas que a nossa vã filosofia de botequim não consegue mesmo explicar, é o caso do 27. Há quem acredite em coincidências, talvez fosse mesmo mais simples usar esse expediente para explicar por que Brian Jones, Jimi Hendrix, Janis Joplin, Jim Morrison, Kurt Cobain, Richey Street, Robert Johnson, Kristen Pfaff, Gary Thain, Ron "Pigpen" Mckernan, Pete Ham, Chris Bell, D Boon, Pete de Freitas, entre outros nomes da música mundial, foram embora aos 27 anos. Alguns, vítimas de acidentes, os mais famosos, no entanto, foram vítimas deles próprios.
Alguns pesquisadores dizem que tudo teria começado em 1938 com a morte do blueseiro Robert Johnson, que muitos consideram o avô do rock.
A aquisição mais recente desse macabro festival de rock que alguém está organizando em algum lugar lá fora é Amy Winhouse. Numa bolsa de apostas londrina, feita por vampiros ingleses legítimos, ninguém vai ganhar muito dinheiro, porque Amy vinha dando demonstrações de que não pretendia chegar aos 30. Logo, vendo as fotos dela há algum tempo na internet, as pífias e ridículas aparições recentes em palcos mundo afora, era fácil deduzir que tratava-se de uma questão de tempo. E, devido ao talento, só comparável ao seu mundo de tristezas e autoflagelação, o número 27 deve ter sido o mais procurado pelos apostadores.
Em geral, esses jovens talentos eram pessoas muito intensas, que pareciam não se adaptar de maneira alguma ao mundo como a maioria de nós o conhece: trabalho, casa, família, amigos, amores de estação. Em comum, também possuíam uma vocação natural para tornarem-se mitos, idolatrados por multidões. Ídolos capazes de enlouquecer estádios com milhares de fãs histéricos.
Na outra ponta da corda, a indústria do showbusiness sempre festejou esses artistas diferenciados, que valem seu peso em ouro, verdadeiras fábricas de dinheiro para seus proprietários. A rebeldia de Jim Morrison, o rei lagarto, preso no palco, onde destilava letras tão profundas quanto herméticas, recheadas de citações de ‘gurus’ que mergulhavam fundo no LSD, sempre foi um elemento catalisador. Não importava se seus fãs detestassem ler e não tivessem noção de quem era Aldous Huxley, que escreveu as Portas da Percepção, trabalho que deu nome à banda. Importava que consumissem o ídolo embriagado, drogado, que cantava sua infinita The end. Jim sabia que seu público queria mais, afinal as pessoas são mesmo muito estranhas.
Ninguém monta uma banda ou sai para buscar a fama pensando em ser mais um. Pensam em ser o UM, aquele que vai revolucionar o mundo, ser os novos Beatles. E os Beatles pensavam em ser o Elvis, que pensava em ser um pretzel ou um donuts. Essa busca é o que há de mais comum na trilha dos aspirantes ao estrelato, a imensa maioria fica no caminho, escolhe outra profissão.
As exceções que vão á frente, no entanto, não são raras, pois a indústria precisa ser alimentada constantemente. Alguns artistas duram anos, outros décadas, poucos vão além e há os que vão para o além literalmente. É claro que há muitos exemplos de longevidade no rock, caso dos Rolling Stones, U2 e Bob Dylan, mas, esses caras, por mais carismáticos que sejam, são velhos hoje em dia. A imagem de rebeldia, que molda sonhos e desperta curiosidade, assombro, ficou lá atrás, não cabe numa vida calma com a família.
O pessoal da Banda 27 jamais terá rugas ou artrose, nunca pensarão em algo tão estapafúrdio quanto aposentadoria. O tempo parou para eles e se transformou imediatamente em algo infinito. O preço disso é alto e eles pagam sem se dar conta.
A vida cheia de conflitos, os dramas familiares, os amores catastróficos, são apontados como possíveis causas para o uso exagerado de drogas e o conseqüente desfecho fatal. Mas, quem não tem esses problemas? A diferença é que, além disso, esses artistas são sensíveis demais. Transformam a dor em música e contagiam milhões. E quanto mais verdadeira for a história, mais intensa a canção, maior o sucesso, melhores as festas etc. No fim, a dor se torna algo lindo de se ouvir, como Loosing Game, que é uma música em que o amor é algo destinado ao fracasso absoluto.
Todos eles eram ricos, famosos, endeusados pela mídia e pelo público, e todos estavam, cada um a seu jeito, pedindo socorro, como uma criança perdida em meio à multidão. Mas, nenhum deles foi capaz de romper a corrente, de optar por uma vida diferente ou sem as drogas. Chegaram a um ponto onde não há retorno, são a prova viva (ou morta?) daquele ditado que alerta “Cuidado com o que você deseja, porque pode conseguir”.

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