Era uma típica família classe média. Só não era mais típica porque a classe foi embora com a crise. Marcos, Marcia, o filho Julinho e a vó Jurema, mãe de Marcos, que morava com eles na espaçosa casa do Grajaú.
O chefe da casa não era chefe, Márcia ganhava mais e tomou conta do posto no último verão. Ele, professor de inglês, ela, advogada arrependida. Julinho fazia medicina, e vó Jurema, do alto de seus 90 anos, começava a regredir.
A tempestade começou depois que Marcos perdeu o emprego. Mais ou menos nesse período, vó Jurema passou a se trancar, sistematicamente, no banheiro de empregada. Ela se fechava e depois começava a gritar por socorro. No início, acontecia apenas de madrugada, mas, não tardou a evoluir. Na festa que Julinho fez para os amigos da escola ela ficou lá por cerca de três horas.
Marcos não conseguia dar aulas particulares, irritava-se com tudo, principalmente com alunos que não conseguiam pronunciar "thieves" direito. Márcia passou a chegar tarde em casa e ainda reclamava porque o jantar não estava pronto. Julinho só não reclamava porque o piercing que colocou na língua incomodava demais, e, além disso ele vivia nas raves. Aliás, nas últimas vezes em que parou para conversar com os pais percebeu que não tinha mais nada a dizer. Vó Jurema estava cada vez mais desligada e ia ao banheiro com frequência. Mas, sempre que abriam a porta para "salva-la"... ela estava rindo.
Marcos se preparou para o divórcio. Sabia que isso magoaria a esposa, com quem estava há quase dez anos. Sentou no sofá. Vó Jurema sentou na poltrona em frente. Ele disse que as coisas iam mudar muito a partir daquele dia, a avó riu e disse: "Heinn?". Márcia não demorou muito.
Antes que ele pudesse dar início ao capítulo final de seu relacionamento, Márcia pediu um minuto. Disse que o casamento estava acabado, ele disse, "eu sei!", e ela arrematou dizendo que há dois meses estava tendo relações com um cliente. Ele disse "Eu mato esse cretino!", ela disse, "É o Boca-suja, aquele traficante", ele retrucou, "é... não vale a pena brigar. Violência não leva a nada mesmo".
Marcia arrumou as malas com uma rapidez que deixou Marcos intrigado, o quanto ela fingira ao longo dos anos? Vó Jurema levantou. Ele se perguntou do que ela estava rindo, mas deixou pra lá. A porta da sala abriu e Marcos levou um susto ao ver um homem careca, com 90% do corpo coberto de tatuagens, entrando sem pedir licença. Resolveu encarar, ainda era o homem da casa, ou algo assim. "Ei, tá pensando que isso aqui é o quê? Tá pensando que vai entrando assim? Quem é você meu chapa?", perguntou, assumindo postura desafiadora. "Ih, pai, sou eu o Julinho, tá ligado?".
Pouco depois, Márcia passou pela sala carregando sua mala. Olhou para Julinho como se não o conhecesse mais, e disse que depois voltaria para pegar o resto das coisas. De repente, ouviram uma voz vinda do banheiro. O famoso pedido de socorro. Deram um sorriso, pelo momento em que o fato se repetia. E foram os três juntos libertar vó Jurema.
Abriram a porta do banheiro, mas não havia ninguém lá. Resolveram ficar juntos e procurar a fujona. Isso já faz mais de três anos. De vez em quando, ao verem televisão juntos, têm a impressão de ouvirem algo vindo do banheiro... algo como um sorriso matreiro.
O chefe da casa não era chefe, Márcia ganhava mais e tomou conta do posto no último verão. Ele, professor de inglês, ela, advogada arrependida. Julinho fazia medicina, e vó Jurema, do alto de seus 90 anos, começava a regredir.
A tempestade começou depois que Marcos perdeu o emprego. Mais ou menos nesse período, vó Jurema passou a se trancar, sistematicamente, no banheiro de empregada. Ela se fechava e depois começava a gritar por socorro. No início, acontecia apenas de madrugada, mas, não tardou a evoluir. Na festa que Julinho fez para os amigos da escola ela ficou lá por cerca de três horas.
Marcos não conseguia dar aulas particulares, irritava-se com tudo, principalmente com alunos que não conseguiam pronunciar "thieves" direito. Márcia passou a chegar tarde em casa e ainda reclamava porque o jantar não estava pronto. Julinho só não reclamava porque o piercing que colocou na língua incomodava demais, e, além disso ele vivia nas raves. Aliás, nas últimas vezes em que parou para conversar com os pais percebeu que não tinha mais nada a dizer. Vó Jurema estava cada vez mais desligada e ia ao banheiro com frequência. Mas, sempre que abriam a porta para "salva-la"... ela estava rindo.
Marcos se preparou para o divórcio. Sabia que isso magoaria a esposa, com quem estava há quase dez anos. Sentou no sofá. Vó Jurema sentou na poltrona em frente. Ele disse que as coisas iam mudar muito a partir daquele dia, a avó riu e disse: "Heinn?". Márcia não demorou muito.
Antes que ele pudesse dar início ao capítulo final de seu relacionamento, Márcia pediu um minuto. Disse que o casamento estava acabado, ele disse, "eu sei!", e ela arrematou dizendo que há dois meses estava tendo relações com um cliente. Ele disse "Eu mato esse cretino!", ela disse, "É o Boca-suja, aquele traficante", ele retrucou, "é... não vale a pena brigar. Violência não leva a nada mesmo".
Marcia arrumou as malas com uma rapidez que deixou Marcos intrigado, o quanto ela fingira ao longo dos anos? Vó Jurema levantou. Ele se perguntou do que ela estava rindo, mas deixou pra lá. A porta da sala abriu e Marcos levou um susto ao ver um homem careca, com 90% do corpo coberto de tatuagens, entrando sem pedir licença. Resolveu encarar, ainda era o homem da casa, ou algo assim. "Ei, tá pensando que isso aqui é o quê? Tá pensando que vai entrando assim? Quem é você meu chapa?", perguntou, assumindo postura desafiadora. "Ih, pai, sou eu o Julinho, tá ligado?".
Pouco depois, Márcia passou pela sala carregando sua mala. Olhou para Julinho como se não o conhecesse mais, e disse que depois voltaria para pegar o resto das coisas. De repente, ouviram uma voz vinda do banheiro. O famoso pedido de socorro. Deram um sorriso, pelo momento em que o fato se repetia. E foram os três juntos libertar vó Jurema.
Abriram a porta do banheiro, mas não havia ninguém lá. Resolveram ficar juntos e procurar a fujona. Isso já faz mais de três anos. De vez em quando, ao verem televisão juntos, têm a impressão de ouvirem algo vindo do banheiro... algo como um sorriso matreiro.
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