terça-feira, 30 de dezembro de 2008

VAI COMEÇAR


VAI COMEÇAR...




E assim, com esse tempo estranho, 2008 se aproxima do fim. Como sempre, temos a impressão de que foi um tempo que passou voando, nosso cérebro se conforta com essa ‘certeza’.
De certo, podemos dizer que todos, sem exceção, estamos mais velhos, e que as coisas não saíram exatamente do jeito que planejamos. Mas, com certeza, tivemos ganhos, e se observamos bem, vamos entender isso, mesmo naqueles episódios que pareceram não servir para grande coisa.
Podemos aproveitar esse fim de festa, porque todo ano deve ser uma celebração à vida, e fazer uma faxina, a casa fica bem melhor assim.


Vamos deixar em 2008 tudo que nos deixou tristes, aquela briga com um parente ou um amigo, aqueles dias cinzas em que nós mesmos parecemos cinza. Vamos jogar pela janela os momentos de indecisão que nos custaram caro, que eles se percam em meio aos papéis picados que viram chuva no dia 31, que representam exatamente isso, um adeus. Vamos deixar pra trás os ressentimentos por coisas pequenas, pois muitas vezes o que incomoda no outro é exatamente algo que temos em nós e não percebemos.

Que tal arrumar a bagagem, afinal, 2008 é um lugar que vai ficar pra trás muito em breve. Coloque na mala as novas amizades, aquela pessoa que chegou de repente e fez você perder o rumo. É, esse alguém vai te dar dor de cabeça, mas isso vai ser bom demais! Leve também tudo que aprendeu. Sim, claro que você aprendeu com tudo que deu errado, mesmo que ainda não lhe pareça assim. É pra isso que servem essas coisas. Planos? Hum... leve apenas o essencial, aquilo em que você aposta. O resto vai aparecendo pelo caminho, quando você menos esperar... é aí que está a magia da coisa. Ah, não esqueça de levar algo muito importante... a fé, pois ela não costuma falhar. Religião? Siga a sua, pois é lá que se sente bem. DEUS é um só. Ah, você não acredita em Deus? Calma... um dia isso muda.

Se há algo em que devemos investir em 2009 é na paciência, na calma. Lá fora há tanques nas ruas, bombas, medo de uma recessão mundial e uma série de outros absurdos que nos deixam perplexos. Mas, as folhas só caem no outono, e o desespero não traz soluções, apenas estresse e seus parentes próximos, como a depressão. Portanto, tenha calma, ao invés do ‘olho por olho’, que como Gandhi disse, geraria uma terra de cegos, respire fundo.


Ouça seu coração, ele tem o compasso perfeito.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

ASSIM É... SE EU PAREÇO


É melhor deixar que de nós falem os outros. Digam eles o que vai em seus corações, que nos vejam como espelhos e reproduzam seus defeitos e virtudes de uma maneira desvairada. Que falem tudo que os atemoriza, que os envergonha, que vejam em nós algo que reconhecem de algum lugar, ainda que lhes pareça inédito ou louco. Que os outros vejam em nós o que mais lhes incomoda, algo que por estar dentro deles não se permitem conhecer.


Deixe que falem de amor e amizade, de sentimentos nobres, caros, raros, e que somos importantes em suas vidas, em algum segundo de algum momento que chega e passa. Deixa aos outros a tarefa de definir e rotular, a nós cabe o sorriso infantil, por não nos vermos nesses personagens, por sermos todos... na mesma intensidade de jamais ter sido algum.


Se eu fosse, seria então quem voce nunca viu, quem voce nunca entendeu, quem voce mais amou mesmo sem saber por quê. Quem andou com você numa praia distante e viu um sol se por, dando lugar às estrelas que incendiaram a noite e afugentaram a solidão.


Mas não... eu não sou, apenas pareço.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

O ESTUPENDO






Estava decidido: Ademar entraria no mundo do espetáculo. A carreira de arquiteto não deu certo, e não foi porque a casa caiu, isso podia acontecer com qualquer um. Na hora de pagar, todos gostaram do isopor, pensava. Depois disso, resolveu inovar e decidiu criar o projeto do Aviãozinho Zuuuum. Um brinquedo que girava velozmente, preso a uma haste. Um dia a haste quebrou. Sejamos francos, Ademar não teve culpa daquele senhor de 90 anos ter inaugurado a atração. E a polícia, a bem da verdade, até hoje não confirmou se o cidadão morreu por causa do vôo ou porque o aviãozinho se espatifou na montanha russa.

Queria ser famoso, tinha que fazer algo impactante. Depois de estudar a vida e as peripécias de Holdini, Ademar, o Estupendo, como passou a se chamar, viu que atuar nas ruas seria suficiente para ganhar adeptos.

Virou escapista, mestre em fugas impossíveis. Com a ajuda de Guilherme, um sobrinho recém chegado do Amazonas, foi para o Largo da Carioca, no Rio de Janeiro, e anunciou seu número. Acorrentado pelo partner (com força excessiva), fingiu que nada sentia. Isso, até o momento em que Gui colocou o saco plástico em sua cabeça e apertou o barbante. O Estupendo só conseguia emitir sons guturais, o público ria e achava que fazia parte do espetáculo. Gui, forte como um touro, pegou o tio, que esperneava, e lançou-o dentro do tanque.

A idéia era que o Estupendo escapasse em um minuto. Sem conseguir respirar direito, Ademar procurou se concentrar em pegar a chave das algemas no fundo do tanque. Deveria estar lá, mas Gui não foi avisado que tudo era um truque. Pegou a chave e guardou. A platéia estava hipnotizada. Aquela figura se debatendo como louco e jogando o corpo contra as paredes de vidro era uma imagem chocante.

Guilherme tentou ajudar e fez todo o possível para segurar o tanque. Só parou quando notou a coloração azulada do tio, e alguém informou que já se passara mais de dez minutos. Ademar ficou um mês se recuperando, mas escapou.
O Estupendo mudou de estilo, malhou o corpo, tomou anabolizantes e se transformou numa espécie de Silvester Stalonge. Fez contatos com a imprensa. Naquele domingo, várias equipes de reportagem estavam no terreno que Ademar alugou. Nas entrevistas, mostrou segurança e sorriu para as câmeras com naturalidade comum as grandes estrelas. Sabia que a partir dali a vida seria diferente. O intrépido aventureiro do impossível foi acorrentado a dois caminhões. A expectativa era a de que ele conseguisse puxar os dios veículos, aproximando-os. Ademar olhou para os lados, para frente, para a cãmera. Após a concentração, começou a forçar as correntes com o máximo de força possível. por alguma razão, incompreensível para ele, os caminhões não se moviam... nem um centímetro. Ele riu, desconcertado, suando em bicas. As vaias não demoraram muito, e as gargalhadas tornavam tudo ainda mais patético.
Guilherme não queria errar de novo, mas, ao ver o tio a ponto de ser linchado, não teve dúvidas: correu em direção a um dos caminhões e entrou. Ademar já estava sentindo o cansaço, então olhou para um dos veículos e, estarrecido, viu o sobrinho fazendo um sinal de OK. Tentou gritar, mas havia muito barulho. Gui não teve dúvidas: ligou o motor, engatou, sem querer, a marcha-ré, e pisou fundo.
Ademar se tornou uma atração internacional, apareceu até na CNN. Era a primeira vez que a TV mostrava uma tragédia com tantos detalhes.

PARANÓIAS DE NOVA YORK EM 2025 - I




- Cadê a máscara?

- Tá na segunda gaveta da cômoda.

- E o colete? Por que você não deixa tudo à mão?

- O que você chama de "à mão"? estava tudo espalhado. O colete estava em cima do oxigenador de ambiente e a capa antiradiativa quase explode a máquina de lavar.

- Tá bom, tá bom. Desculpa. Droga, cadê a bota, querida?

- Ih, eu esqueci lá na varanda.

- Francamente, linda, da última vez tive que colocá-las por 2 horas no box de descontaminação.

– Ele vai até à varanda – Ihh, já era, desintegrou.

- Desculpa. Mas também, eu tenho que fazer tudo.

- Cadê a empregada que você contratou?

- A Maria? Ela explodiu na casa do Joseph. Mas acho que foi suicídio.

- Que suicídio o quê, era uma missão, eu sempre disse que ela era mulher-bomba.Tudo bem, deixa pra lá. Você sabe onde está aquele par de mocassim com sola de mercúrio.

- Debaixo da cama.

- Ah, achei.

- Querido, é melhor você se apressar, as crianças saem daqui a dez minutos.

- Eu sei, eu sei!. Qual é a rota de fuga que a professora vai usar hoje?
A 23b.

- De novo? Mas não foi essa ontem?

-Não, foi a 21c.

-Humm, deixa eu ver... essa de hoje é a que fica no subterrâneo do McDonalds?
- Isso.
- AHHHHHHHHHHHHH, SOCORRRO QUERIDA!!!!- Ela corre e encontra o marido olhando apavorado para a mão direita. Ele gesticula, dá voltas em torno da mesa da copa e segura a mão coberta pelo pó branco como se não fizesse mais parte de seu corpo. - Afaste-se querida, afaste-se! É antraz, eu vou morrer! arrrrghhhhhh(lágrimas)
- Dá ‘pra’ parar com o escândalo. Isso é sal. É que deixei cair um pouco enquanto temperava o peixe.- O homem tenta se recompor do vexame. Ajeita seu macacão de 30kgs e dá um sorriso amarelado.

- He, he, he, acho que estou meio estressado. Bem, já estou pronto.- Dá um beijo na mulher e, depois de ficar cinco minutos na ante-sala de descontaminação, sai.

- Cuidado com as minas na 42th, o Harry perdeu um braço lá, ontem.

O homem, já na rua, responde:

- Não esquenta, querida. Eu conheço todos os explosivos dessa ru...BUMMM!!!!!

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

UM DIA DE SOL



Aquela rua tinha algo de especial, talvez fosse o bosque. E um nome estranho: solidão. Na primeira vez que entrei, nem reparei o quanto o portão parecia antigo. Havia limo em toda a extensão, o verde e o marrom se mesclavam como uma sinfonia de cores e épocas distintas. Um portão eterno para algum lugar, qualquer lugar, todos os lugares...
Quantas vezes andei por esses jardins e árvores, que raramente deixavam os raios dourados tocarem o solo? Era perfeito ver a manhã passar, às vezes lenta, às vezes rápida demais, como um momento divertido, um sorriso fugaz, como os sete anos. E no vento que soprava, quase podia tocar a tarde, que chegava de repente e parecia um velho amigo, daqueles com quem podemos perder, ganhar, um dia inteiro. Mas, sempre vinha a noite, enganando com o brilho das primeiras estrelas, que tinha o olhar dos amores que deviam ser para sempre. E quem disse que que não foram?
Percebi movimentos numa calçada, que corria como uma trilha no meio do bosque. Perguntava quem teria colocado aquelas pedras brilhantes no caminho. Só então, percebi...eram diamantes! Não havia rotina naquela profusão de tons, semi-tons, degradées de azul e verde, vermelho e laranja. E não cansando os olhos, as pedras refletiam os desejos mais profundos, que por capricho, eram os mais simples.
Quando o frio aumentou percebi que havia algo errado, afinal, o que eu estava fazendo ali? Não havia nenhuma razão, nenhum compromisso inadiável, nenhuma viagem de negócio. Eis a resposta: eu andava por aquele caminho porque não havia motivo, porque ninguém disse para fazê-lo.
Senti uma saudade enorme das coisas que passaram, das palavras ditas, dos olhos que sorriam pelo simples prazer da existência. Era como se cada planta daquele bosque contasse uma história sobre o que teria acontecido se eu não tivesse dito, ou feito, as coisas do jeito que me lembrava. Fiquei diferente a cada futuro, todos com seus pontos de interseção. Então, para cada caminho, sobravam dúvidas. O futuro seria, outra vez, e sempre, de saudades. A busca incessante por completar uma história sem fim.
Uma tristeza me tocou, de leve. Foi aí que ouvi uma voz soprar meu nome. Como nunca antes. Era como se, de repente, o acaso dos dias passasse a fazer todo o sentido do mundo. Virei rápido e a vi sentada, sorrindo. Os cabelos dourados tinham um brilho especial, um por-de-sol que só acontece quando o coração está na primavera. Os olhos azuis eram uma armadilha, um oceano. "Senta aqui", ela disse.
Conversamos sobre a vida, o que nós fazemos dela, das desculpas que criamos para que a felicidade esteja sempre presa a um futuro, um plano para amanhã. E nunca é amanhã. Ela continuava sorrindo, por que queria? Por que não? Três... quatro estrelas riscaram o céu. Quando dei por mim, estávamos de mãos dadas, caminhando. Caminhando para algum lugar, para lugar nenhum, para todos os lugares.
O bosque parecia, então, sem fim, e quando seu rosto tocou o meu, tudo ficou estranho. Sabia que nunca mais poderia deixar aquele verde incessante, não escaparia daquele azul que me fitava de um jeito tão sincero que causava espanto. "Por que roubastes o meu coração?", perguntei. "Porque tu roubastes o meu também", ela disse.

ELES ESTÃO ENTRE NÓS... OXENTE!!!



Sobral estava em festa. Finalmente o primeiro astronauta brasileiro faria uma viagem a outro planeta. Ariosvaldo Matoso era o seu nome. Depois dos artistas e políticos famosos, era a hora do Ceará brindar o Brasil com um herói espacial.
Desde pequeno, Ariosvaldo era um cara cabeça. Era o menino que organizava as brincadeiras, ajudava os pais, e se destacava na cidade. Ainda adolescente, ganhou um concurso e foi estudar no Rio de Janeiro. Com 18 anos, o Crânio, como era carinhosamente apelidado pelos colegas de faculdade, foi para os EUA. A grande facilidade para lidar com as exatas e o amor que desenvolveu em relação a Astronáutica fizeram com que se tornasse membro do grupo que faria a primeira viagem tripulada a Marte.
No dia do lançamento da nave Stranger, Sobral parou. O Ceará parou. O boné usado por Arizinho, o filho mais novo de dona Setembrina e seu Molêncio, foi exposto em praça pública. Ariosvaldo nunca tirava o seu bonezinho, a não ser quando esquecia o carrinho da feira e tinha que trazer alguma melancia dentro dele.
O prefeito mandou instalar um telão na praça principal da cidade. Um a um, os cinco astronautas entravam na Stranger. Turistas e parentes distantes perguntavam quem era o Arizinho, e todos diziam, " É aquele ali, o do capacete maior!". Antes de passar pela porta da nave, o filho mais famoso de Sobral quebrou o protocolo – coisa de nordestino- e deu um adeusinho para as câmeras. Muitos conterrâneos choraram de emoção.
A família do astronauta ganhou as páginas das principais publicações do país e do mundo. Programas de televisão contavam a história do cearense que foi para o espaço. Até uma estátua, feita de mandacarú, foi erguida em homenagem ao menino porreta.
Os dias à bordo da Stranger eram transmitidos pela Internet em tempo real. Assim, o Brasil acompanhava o entrosamento de Ariosvaldo com os outros tripulantes, todos norte-americanos. O rapaz flutuava na gravidade zero, e alguns amigos de infância riam ao ver Arizinho de cabeça para baixo, totalmente desgovernado, batendo nos cantos da nave. "Vixe, parece um vampirinho cabeçudo", diziam. Todos se divertiam vendo aquele Big Brother intergaláctico.
O dia mais aguardado era o do pouso em solo marciano, e ele chegara. O mundo parou naquele 5 de maio. O avanço tecnológico permitiu o envio de sondas com câmeras de última geração, que já estavam no planeta para registrar, de vários ângulos, a chegada da tão aguardada Missão.
A nave descia, e deixava de boca aberta aqueles que conheciam o garoto de Sobral. Antes de deixarem o módulo, os astronautas ouviram o hino americano e um trecho do brasileiro. Então, lentamente, começaram a descer. Estavam juntos, de mãos dadas. Steve Austin fincou sua bandeira no terreno e Ariosvaldo repetiu o gesto com a bandeira brasileira. Ele trazia consigo um embrulho embaixo do braço esquerdo. Os países do Ocidente explodiam em festas, Sobral recebia visitantes de várias partes do globo.
De repente, sem que a maioria das pessoas notasse, uma estática começou a tomar conta das imagens. Quando a recepção voltou ao normal, todos perceberam que os astronautas não estavam mais sozinhos. Havia algo com eles. Os heróis da Terra estavam juntos, pareciam estar com medo. Ariosvaldo, no entanto, não demonstrava temor. Um close mostrava que ele estava...rindo.
Marte era realmente habitada. Os seres não tinham mais que 1,20m, e, ainda que não se conseguisse um imagem nítida, dava para se notar que eram levemente parecidos conosco.
Ariosvaldo, então, fez o que ninguém esperava: respirou fundo e tirou o capacete. "Ai meu Deus, o minino vai pegar um resfriado!", gritou dona Setembrina. Mas, Arizinho não parecia sentir nada, o que causou espanto no mundo inteiro.
O filho ilustre de Sobral caminhou em direção aos pequenos seres e ofereceu um presente. A criatura que recebeu, desembrulhou e apresentou aos colegas, que davam pulos de alegria. Depois, numa confraternização universal, Ari foi abraçado pelos seres. Os cearenses não demoraram a descobrir que o presente de Arizinho era uma rapadura. Isso sim, era produto de exportação.
Arizinho pegou um dos seres pela mão e o levou até uma das câmeras.
- Oi mãe, eu nun disse que incotrava ele? Fala alguma coisa, abestado.- Apontou para o hominídeo.
- É isso aí, Setembrina! aqui é o primo Severino, fazendo contato. Aqui em cima tá tudo bem. Quero mandá um chêro pra Dulcinéia, um abraço pro tio Noca...

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

DISTÂNCIA DE MIM MESMO


Estou com saudades de nossas viagens, das que fizemos e das que vamos fazer num dia de um futuro qualquer. De correr na areia da praia, seja de Ipanema ou do Taiti, isso nunca fez a menor diferença. Saudades de nossas fotos, daqueles momentos que nunca vão envelhecer. Voce reclamando que o cabelo não está bom, que fica melhor fazendo esta ou aquela pose, e eu rindo, pois te acho linda de qualquer maneira. Eu querendo fazer algo diferente, umas palhaçadas, alguma coisa longe do convencional. E no fim do dia ficar abraçados, olhando para um céu repleto de estrelas. E estas também não passam de fotos, de uma recordação. A gente rindo dessas coisas da ciência, que nos explicam como podemos ver com tamanha nitidez algo que já não existe.
Estou com saudades também de nossas brigas. Sim, sempre pelos motivos banais, que na hora parecem tão significatvos e absurdos, tanto quanto olhar para um judeu ortodoxo na rua e dizer: Jesus te ama!
Estou com saudades de não saber o que dizer para fazermos as pazes, de te ver passando de um lado para o outro como se eu fosse invisível, e depois oferecer um doce como se eu fosse um garoto. E eu querendo chamar sua atenção, querendo me desculpar, não importando mais quem estava certo, ou se havia alguém certo... e depois, a gente nem lembrava mais porque aquele assunto ganhara tanta importância... que assunto, mesmo? rsrsrs
Saudades de nossos instintos básicos, de fazer amor com gosto de sexo, selvagem, tântrico, marcial... aqui, ali e em vários lugares.
Tô com saudades dos pratos que você faz, do macarrão especial ao frango com temperos exóticos e molho branco... dá água na boca, ainda. Tenho saudades da minha vez, quando resolvo interpretar as receitas e inovar na quantidade de ingredientes. Eu digo que é uma questão de percepção, que os pratos tem que ter um toque diferente, e voce retruca que as medidas são essenciais para que as coisas saiam como o esperado. Devo admitir que em 99.9% você está certa, mas vai dizer que não gostou do bife super apimentado??? Tá, pode não ter gostado, mas pelo menos voce caiu na gargalhada, depois que bebeu todo o suco da jarra.
Tô com saudades do dia em que te conheci, daquela festa. Eu olhando para um lado, você para o outro. Eu esperando alguém, você também. E não era a gente. De repente, era. E foi tudo tão rápido, nem deu tempo de perceber o que estava acontecendo. Não que isso importasse, no fim das contas.
E tenho saudades do do seu olhar. Difícil explicar o que ele significa. Mas isso acontece sempre que alguma coisa é importante demais para ser medida através de palavras. E se analisarmos bem, as palavras são totalmente dispensáveis quando o coração canta em silêncio.
Estou com saudades do sonho e do que era realidade e de quando era fácil misturar os dois sem prejuízo para ninguem. De te ver dormindo ali, pertinho. De acordar bem cedo, fazer um café super especial com tudo que voce gosta e levar pra cama numa bandeja, dessas que a gente vê nos filmes. De chamar seu nome pra te despertar e quando voce finalmente abre os olhos e sorri eu ouço alguém me chamando. É você, sorrindo pra mim, abrindo as cortinas e dizendo que está na hora de acordar, pois o dia está lindo.
É, ando com saudades de você... e de mim.

sexta-feira, 23 de maio de 2008

O GRANDE CLÁSSICO




Era, sem dúvida alguma, o confronto mais esperado dos últimos tempos: católicos versus evangélicos.


Desde a reforma de Lutero os dois times esperavam por uma oportunidade dessas. À direita das cabines de rádio o saltitante e carismático time liderado pelo alegre padre Marcelo Rossi dava a quinta volta ao redor do campo, gritando "aleluia, aleluia". Do lado esquerdo, o aplicado séquito de Macedão se aquecia praticando exorcismos.


A venda de ingressos sem fins lucrativos superou as expectativas. Multidões se acotovelaram nas bilheterias do Maracanã e muita gente saiu machucada. No entanto, ninguém reclamou. Os mais machucados (incluindo alguns pisoteados) erguiam as mãos para o alto e davam graças pela oportunidade de purificação.


É preciso lembrar que acusações de parte à parte marcaram esse confronto de titãs: a Coordenadoria Especial Universal –CEU- acusou o carismático Marcelo Rossi de plágio, alegando que as danças praticadas pelo religioso foram criadas nos templos evangélicos. A CEU condenou também um suposto abuso de autoridade por parte do dirigente radical Bento XVI, que teria tentado subornar o árbitro indicado para a partida com uma suposta salvação eterna. Aliás, dirigentes católicos afirmaram no programa da Ophra Winfrey (algo parecido com o programa da Hebe Camargo, só que no padrão de primeiro mundo) que assinaram um contrato de exclusividade com Jesus, o que causou ruidosos protestos. Os católicos, no entanto, refutaram as acusações, e Padre Zeca disse que roubo maior seria colocar os tais atletas de Cristo – uma seita que envolve profissionais de vários clubes brasileiros - em campo (pediu, inclusive, exame de sanidade mental desses jogadores).


A guerra de marketing foi transcendental ao longo de toda a semana: Bispo Macedo surgia de dez em dez minutos em seu canal de tv para lembrar da importância de uma torcida vibrante na hora do jogo; Marcelo, Zeca e Jorjão fizeram missas abertas nas praias do Rio e sortearam pranchas de surf e ingressos para bailes funk. "Maresia celestial pura, galera!", dizia Jorjão.
No dia do jogo o Maraca estava entupido. No gramado, os capitães foram tirar a sorte. O árbitro, Paulo Coelho, que não é católico nem evangélico, mas é imortal, jogou a moeda para o alto. Quando foi verificar o resultado... MILAGRE!!!! A moeda sumiu. Macedo acusava Marcelo, chamando-o de inquisidor ladrão. O padre favorito das redes de tv revidou lembrando que o Bispo era tesoureiro – alusão ao cargo ocupado pelo suicída Judas Iscariotes há algum tempo. Antes que chegassem às vias de fato, Paulo Coelho sorriu e pediu calma. A moeda apareceu na palma de sua mão. Era mais uma brincadeirinha do mago.


A partida foi disputadíssima. O ex- governador Garotinho coordenava a defesa evangélica com pessoas de confiança, destaque para o zagueiro central bispo Rodrigues; o ataque tinha craques do passado, como Zinho e Muller (que hoje é dançarino, exorcista e comentarista esportivo). Os católicos atacavam com os padres surfistas, que fizeram questão de usar uma camiseta com os dizeres: Aloha from paradise. Os garotos confiavam totalmente na experiência da defesa, composta por Paulo VI e João XXIII. No banco de reservas estavam São Paulo, São Francisco e São Judas Tadeu (que só entra em último caso).

No último minuto, de um zero a zero emocionante, o juiz, que fez chover quando quis e controlava o jogo levitando a meio metro do chão, marcou um pênalti a favor dos católicos. Cid Moreira, narrador oficial, por ter a voz parecida com um trovão, engoliu em seco: "É agooooooora, caros ouvintes, ao apagar das luzes..."
Marcelo Rossi pegou a bola, beijo-a, cantou a antiga música do passarinho quer dançar, e proferiu:

- Quero que o mundo acabe, se eu não marcar!
No gol, Macedo (que substituiu o goleiro titular, expulso por ficar chutando uma santa que estava atrás de sua balisa) definiu:
- Quero que o mundo acabe, se eu não pegar !!!!
A partida não chegou ao fim, pois, naquele instante crucial, Deus atendeu ao desejo de ambos.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

VALORES

Ela chegou calada, como de costume. Ele estava lendo um livro, como de costume. Ela sentou ao seu lado no sofá, como de costume.
- Precisamos conversar.
- Conversar.
- Olha, eu sei que a gente não está muito bem. Que as coisas esfriaram nos últimos meses. Acho que faz parte, que as coisas são assim mesmo.
- Assim mesmo.
- Bem, eu pensei muito, muito. Afinal, bem, estamos juntos há vinte anos.
- Vinte anos.
- Pois é, acho que fizemos nossa história, tivemos momentos inesquecíveis. Lembra de 94, em Paris? Ah, acho que nunca me senti tão feliz.
-Feliz.
- É, isso!
- Isso.
- No início era até legal, mas não é mais. Eu preciso me encontrar, e decidi que...que...não vai ser com você.
- E?
- Como, "e"? estou dizendo que estou encerrando nosso relacionamento. Sei que é um choque para você, mas não dá mais. Por favor, não insista. Eu cresci muito e você também, somos dois adultos e não precisamos agir como trogloditas.
- Trogloditas.
- É o F I M, entendeu? Chega, não agüento mais suas manias perfeccionistas, seu jeito de desdenhar das minhas amizades, sua esquizofrenia debilóide de não dar atenção e ainda ficar repetindo sempre as últimas palavras das pessoas. Acho que você não está me levando a sério, mas eu te digo, é bom você se acostumar em nunca mais me ver. Quer fazer o favor de olhar pra mim e largar esse livro idiota.
- É do Gabriel Garcia Marquez.
- E daí? É um idiota, como você é um idiota. Todos os homens são idiotas! Quer saber. Eu tenho outro.
- Outro idiota?
- É grrrr muito melhor que você! É o Arnaldo. Isso mesmo, seu advogado. Pronto, falei.
- Tudo bem.
- Tudo bem? Eu sabia que você era frio, mas isso é ridículo!- ela levanta furiosa e faz a mala. Põe o seu melhor vestido, enxuga as lágrimas e volta à sala. Ele ainda está lendo.- Acho que isso é um adeus.
- Eu queria te pedir uma coisa.
- Não adianta você pedir pra eu ficar. Acabou, entendeu? Acabou!
- Tá, tá, faz um favor. Desliga o fogo, que os meus ovos cozidos já devem estar prontos.

sexta-feira, 16 de maio de 2008

MERECIMENTOS


Merecimentos


Eu tinha uma reunião em São Paulo, o vôo estava atrasado em mais de duas horas, só isso explica minha atitude. Sentei na poltrona e deixei minha cabeça vagar nos números que apresentaria na reunião. Nunca gostei de viajar com tempo ruim, isso sempre me deixou irritado. O fato é que assim que deixamos o chão a pessoa começou a assobiar. Até aí, tudo bem, o problema é que aquilo começou a cantarolar também. Pagode! Odeio pagode. Cmon, estávamos na primeira classe.

Durante vinte minutos tentei negar a existência do ser, mas, de nada adiantou. Depois das músicas de pagode, meu silêncio foi invadido por um ruído intermitente, um virar de páginas que não parava. Olhei para trás e encarei o indivíduo. Devia ter uns vinte e poucos anos, e o terno rosa nada tinha a ver com o que aconteceu. Eu odeio homossexual, mas esse não era o problema, não sou preconceituoso. Não é porque você odeia que você vai ter preconceito, entende?
Queria que meu olhar de fúria cega causasse a sensação de medo na pessoa, mas o máximo que ele fez foi franzir as sobrancelhas, levantando uma e abaixando a outra, e perguntar se eu estava sentindo alguma coisa. O engraçadinho perguntou se eu estava com fome. Sem responder, voltei a minha posição e resolvi me acalmar.

Meia hora depois, alguém teve a infeliz idéia de ligar a tv. O filme era Priscila, a Rainha do Deserto. Pronto, eu sabia que as coisas não iam acabar bem. O cidadão não conseguia se conter, dava gritinhos e, não satisfeito, cantava todas as músicas. Quer dizer, cantava é força de expressão. Ele berrava, e como era desafinado. Chamei a aeromoça e ela foi pedir silêncio ao camarada. A pessoa disse que vivia numa democracia e tinha todo o direito de se expressar como julgasse melhor. Nessas horas, sempre tenho saudades do meu tio general.
Mas, a pior parte ainda estava por vir. Do lado de fora, a tempestade engrossava, e a cada relâmpago a criatura dava um gritinho e chutava minha poltrona. Cansado da situação, levantei-me e esbravejei contra a criatura.

- Será que o senhor pode se comportar como um ser humano normal?
- Quem, eu?- disse a coisa, com a língua presa, olhando para os lados, fingindo não entender.
- É, o senhor mesmo. Seu comportamento é, no mínimo, desagradável. Estamos num avião e devemos respeitar a individualidade de cada um. Será que dá pra entender?
- Eu não dou nada! Isso é uma cantada? Olha que eu te processo por assédio sexual, heeeein!
Tenho que confessar que me descontrolei. Parti pra cima da pessoa, que gritava como um alucinado.
- Socorro, helllp, ele quer me estuprar!!!!!

Eu queria mesmo matá-lo, mas fui impedido por outros passageiros. A aeromoça disse que alguém queria trocar de lugar comigo, mas eu não quis. Nunca fugi de nada e não seria aquela a primeira vez.

Pouco depois, as coisas saíram do controle. Pensei que era uma simples turbulência, a princípio. Quando ouvi o comandante pelo auto-falante soube que algo estava errado. Ele explicou que estava com problemas em uma das turbinas e por isso perderíamos altura. Só não disse que aquilo ocorreria imediatamente, nem que seria uma coisa tão abrupta. Meu estômago veio à boca, e antes que eu começasse a rezar o rapaz de rosa deu um berro que encobriu todas as outras reações.
- Ai meu Deus! Aí vou eu...aí vou euuuuuuuuuuuuu.

O cara estava sem o cinto, e segurava no meu pescoço enquanto o avião caía. Tentei me esquivar e acabei levantando. Lembro que voamos pelo corredor, enquanto tentava me desvencilhar. Aí o rosinha se segurou na porta de emergência. A gritaria era tanta que não eu conseguia entender o que ele dizia, era algo como "eu não vou sozinho, eu não vou sozinho!!!". Quando consegui me virar, o desgraçado abriu a porta, e, bem, quando acordei já estava aqui. Aliás, que lugar é esse? Será que não dá pra ligar o ventilador?

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Branco, Preto e alguma coisa por trás





Alguns mistérios ultrapassam a fronteira dos anos e se perpetuam no imaginário popular como grandes enigmas da humanidade. Como foram feitas as gigantescas pirâmides do Egito? Como os dinossauros foram extintos? Por que o calendário Maia só vai até 2012? E, finalmente, o que é Michael Jackson?
No início da década de 70, a família Jackson Five (que eram sete) era uma unanimidade mundial, dizem que até os líderes da Ku Klux Klan tinham seus discos. Michael, além de vocalista principal, era o cartão de visitas do grupo. Canções como Ben, Happy, One Day in Your Life e Music and Me deixavam marcas indeléveis em quem parasse para ouvir. Os Jacksons eram tão importantes quanto os Flintstones ou os Jetsons. Tão mágicos e eternos quanto.
Infelizmente, o tempo passou, e o encanto, como sempre, foi se desfazendo. Em 1979, Michael, em carreira solo, lançou Off the Wall, enquanto os irmãos tentavam seguir seu rastro. O menino de sorriso cativante iniciava um caminho sem volta. Aquele foi o último disco como black Michael.
Os fãs se multiplicavam numa velocidade somente superada por aquela usada pelo rapaz para se transformar. Thriller, de 1982, já apresentava ao mundo uma outra pessoa. Os cabelos encharcados de gel e as roupas coloridas faziam parte do visual de qualquer adolescente dos 80, só que havia algo mais. O próprio clipe do disco mais vendido de todos os tempos mostrava, numa superprodução, que Michael Jackson não existia mais. Em seu lugar surgia algo diferente.
Provando que a realidade é mesmo um ótimo lugar para se visitar, mas quase ninguém gosta de morar nela, Michael superou toda e qualquer aventura cinematográfica. Como um trem fantasma desgovernado, Mr. Jacko provocava um susto à cada aparição. A música tornara-se um acessório, algo a ser incluído nos pacotes promocionais. Dá para contar nos dedos os sucessos do popstar, a partir de Thriller.
Assumindo, literalmente, o epíteto de Monstro Sagrado, o ex black se deixou levar por um mundo particular, cheio de criancinhas e adolescentes, com direito a parque de diversões em seu quintal e atitudes suspeitas. Dizem as más línguas que nesse período Mike teria fechado um acordo com uma fábrica de chocolates e gravado um comercial em português, onde aparecia dizendo: "Eu só como Garoto".
Se o cantor desaparecia junto com a cor original, fatos e boatos pipocavam: Michael casou-se com a filha de Elvis e gravou um clipe para mostrar que suas curvas, seus cabelos e seu batom eram mais insinuantes que os da esposa; depois, teve filhos – três até agora-, todos de pais desconhecidos; e, após ser coroado como rei na África, ter comprado o direito das músicas dos Beatles e um terreno em Vênus, Michael resolveu fazer algo para chamar a atenção: após ser agraciado com o prêmio Bambi 2002, (não é piada), Michael apareceu na janela de um hotel e balançou um de seus rebentos como se fosse um boneco.
Assim como pirâmides e discos voadores, cada geração tentará explicar, sob referências distintas, o que é Michael Jackson. Seja como for, seu comportamento já é uma lenda, e mesmo hoje, vendo-o andar como um boneco e ouvindo sua voz pífia e metálica, muitos desconfiam de que ele não passa de um truque de imagem.