segunda-feira, 18 de outubro de 2010

OS DESABRIGADOS DA UPP





Um dos problemas que mais afligem a população das grandes cidades é a falta de habitação, de moradias dignas. E o que dizer quando moradores são obrigados a deixar suas casas por causa da polícia? Isso, sim, é o fim do mundo.
Agora, devido à instalação das chamadas UPPs -Unidades de Policia Pacificadora-, estamos presenciando um êxodo dos antigos donos dos morros, quer dizer, das comunidades. É triste, tocante, ver homens saindo no meio da madrugada, deixando seus barracos de dois e tres andares personalizados. E olha que alguns têm piscina, sala de jogos e câmaras de tortura de última geração.
Andando sem direção, adolescentes, pós-adolescentes e adultos, olham para o futuro incerto. Nas mãos, carregam seu fuzis, suas pistolas, um saquinho plástico com granadas e grandes sacolôes de drogas. Alguns olham para o céu, certamente lembrando do espetáculo das balas traçantes, aqueles projéteis lindos, riscando o céu da cidade. Ah, que saudade das balas perdidas, aquelas safadinhas que nunca acertavam a pessoa certa.
Olhando para trás é facil perceber a lágrima que escorre de alguns olhos. Principalmente ao lembrar dos bailes funks, dos proibidões, das meninas que apareciam grávidas e não faziam a menor ideia de quem era o pai. Tudo bem, porque eles também não faziam a menor idéia de que tinham filho. Tudo livre, bem natural, sem essas neuroses, esses medos doenças fatais e outras bobeiras exploradas pela mídia neoliberal.
Ao passar pela parte elevada do morro, alguns param e ficam ali, olhando para o microondas. Era tão divertido, pensa um.
E assim, numa fila indiana, eles descem. Já são centenas em todo o estado. Desabrigados, desajustados, sem a menor chance de conseguir outro emprego tão legal. Imagina, um deles ganhava pra soltar pipas quando via a polícia chegar. Agora, a pipa não sobe mais. É duro pensar que nenhum deles vai ganahr promoção por derrubar helicópteros.
O que resta a fazer? talvez alguns arrastões, quem sabe queimar uns onibus... mas, é besteira, nada vai substituir a sensação de ser o rei do morro, de comandar os moradores, sempre tão receptivos, tão obedientes. A adrenalina de atrair as patricinhas da zonal sul, que querem mais é emoção, o perigo, a imagem viril do dono da boca, com suas bazucas.
E a gente pergunta, pra onde vão todos eles?
Tem gente dizendo que a retirada nada mais é do que um acordo de ‘cavalheiros’, em que o poder público se compromete com o poder local a devolver as terras ocupadas depois de 2016, ao fim das Olimpiadas. Até lá, a galera pega mais leve, vai para outros municipios, estados. E todo mundo fica bem na foto.
Parece haver um elemento ficcional nessa ‘teoria da conspiração’, mas basta ver a declaração de atores famosos e produtores internacionais que vêm filmar no Rio, nas comunidades, para se ter a certeza de que tais acordos existem e são praxe, apesar da negativa oficial.
As autoridades constituídas trabalham sempre com a hipótese de de que a população é ingênua, passiva, e vai acreditar nas declarações oficiais. Recentemente alegaram que os arrastões são fatos isolados, sem nenhuma orquestração. E logo depois 19 comandantes de quarteis no Rio foram trocados. A realidade é algo em que voce acredita

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