Estava em casa, em frente à tv. Lá, nos recônditos selvagens da Africa, começou a Copa do Mundo. E cada uma é diferente da anterior, não apenas porque o cenário é outro, mas em virtude dos avanços tecnológicos e mudanças provocadas por questões sociais.
Novas câmeras fazem os jogos parecerem videogames, cada gol pode ser observado de vários ângulos e em breve teremos a visão da bola, com uma micro câmera instalada na esfera. E falando em realismo, quem já tem tv LCD em 3D de 42’ vai pensar que está dentro do campo. É o máximo. O proximo passo deve ser a holografia.
Os juizes usam head sets e as bandeirinhas possuem sensores que avisam ao árbitro de alguma irregularidade observada pelo auxiliar. Os estádios construídos e reformados são maravilhosos, ultra modernos. Tem um que possui grama sintética, aprovada pela primeira vez para uma copa do mundo.
Em contrapartida, o futebol, que deveria ser o motivo principal do espetáculo, vai mal das pernas. Além de empates e vitórias magras, o que se viu nessa primeira semana de copa foi a constatação de que houve uma guerra e a Europa venceu. É lógico, no fim das contas, pois os principais jogadores dos paises participantes jogam em clubes no velho mundo, e ao que tudo indica, ao invés de influenciarem uma mudança no modo de jogar, foram influenciados. O resultado é que os países africanos, os asiáticos e a America do Sul mostraram um futebol previsível, burocrático, asséptico e que desperta apenas o sono. Os primeiros jogos foram excelentes para quem sofre de insônia.
Essa globalização da bola foi traduzida em vitoria do Japão contra Camaroes, Coréia do Sul vencendo a Grecia, que derrotou depois a Nigeria. Vimos também a Suiça, país em que o principal esporte é o campeonato de fabricantes de chocolates, vencendo a Espanha, apontada como a grande favorita. Na verdade, apesar de alguns comentários contrários, não acredito que houve zebra alguma até agora, porque nessa homogeinização a mediocridade é geral. Para os africanos, acabou a alegria, o futebol arte, restou a vuvuzela, um artefato mistico tribal, uma espécie de trombeta do apocalipse capaz de deixar surdo quem toca e quem ouve ao mesmo tempo.
Até a velha rivalidade entre os países arrefeceu, afinal, os jogadores de Alemanha, Chile, Camaroes e EUA são amigos, jogam juntos em clubes. E mais, a seleção da Alemanha tem 8 ‘estrangeiros’. Essa onda de naturalização oportunista destrói o velho apelo da competição, que era uma disputa entre nações, uma ‘guerra’ esportiva. Hitler, lá embaixo, deve estar ardendo de raiva e ódio ao ver um jogador negro, Cacau, fazer gols e virar estrela naquele país que seria o símbolo da supremacia loira, alta e de olhos azuis.
Mas nem tudo está perdido, ainda. Maradona, gostem ou não, é a figura da Copa, e sua seleção, um exemplo de que o futebol deve ser diferente, manter características essenciais e ter pelo menos um craque para servir de referencia. Los hermanos em 2010 continuam cabeludos, arrogantes, velozes e com fome de gols.
Antes, ao vermos uma seleção brasileira, exigíamos que ela fosse parecida com a perfeita de 1970 ou a artística de 1982, agora, ao observarmos o técnico Dunga chamando o Escobar (reporter da Globo) de careca pra baixo, o capitão Lucio e a armação tática, ficaríamos satisfeitos se o elenco tivesse um pouco da determinação ofensiva da Argentina. Alguns dirão que o importante é ganhar, mas sou daqueles que acham que não basta ser campeão, tem que parecer campeão.
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